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sábado, 24 de novembro de 2018

Paralelo cangaço/politica: A história do cangaço e nos dias atuais na visão do pesquisador e poeta Lino Ademar Praxedes

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Esse texto foi escrito pelo compositor e poeta caraubense Lino Ademar da Silva Praxedes. Ele exprime seu pensamento, cruzando um paralelo nos tempo do cangaço e a atual conjuntura politica do Brasil. Achei legal e compartilhei.

Veja na íntegra:

A história do cangaço é rica e de uma importância enorme para o conhecimento dos problemas da época e que muitos se assemelham com os problemas atuais da nossa região. Mostra às diferenças sociais daquela época e o poderio dos coronéis e os descasos dos políticos e da justiça para com os menos abastados. Mostra às dificuldades da época e a falta de justiça em certos casos, junto com os problemas causados pelas grandes secas e a miséria extrema, tudo isso fez com que muitos vislumbrassem no cangaço uma maneira de sobrevivência e de fazer justiça com às próprias mãos. Nosso Brasil e a nossa região passa por problemas semelhantes, os descasos dos políticos com a coisa pública e seu poderio junto ao judiciário contribuem para que injustiças seja cometidas e fiquem impunes prejudicando assim toda uma sociedade. Empresários ditam suas regras substituindo os coronéis dando assim continuidade ao cangaço, só que bem mais moderno, às armas usadas são canetas. Justiça com às próprias mãos não se pode mais fazer, só através do voto, mas essa ainda não se tornou a justiça ideal ou justa, o voto de cabresto ainda vigora em vários munícipios, é o coronelismo moderno impedindo que se escolha políticos honestos e comprometidos com bem geral do povo e do país. Não que eu defenda justiça com às próprias mãos, sou contra a violência seja ela qual for, mas naquela épocas muitos se valeram dessa justiça bruta revoltados com injustiças cometidas com familiares ou coletiva.

VEJA MAIS:

Virgulino Ferreira, O Lampião - O Rei do Cangaço
Lampião nasceu das contradições e conflitos da terra, da violência do campo imposta pelos coronéis latifundiários, políticos corruptos e do clero aliado da aristocracia sertaneja e da burguesia litorânea.
Eternizou-se como mito da cultura popular. Virou lenda no Brasil de Sul a Norte, principalmente nas regiões Norte e Nordeste.
Influenciou a música popular nordestina. Apimentou os acordes de Luiz Gonzaga e de centenas de sanfoneiros, violeiros, repentistas e cordelistas.
Seu sangue corre nas veias do xaxado (dança dos gangaceiros), no xote, no baião e no forró.
Lampião e Maria Bonita: verdadeiros mitos do
sertão brasileiro. A dupla é hoje destaque em
portais e jornais de todo o mundo.
“É Lamp, é Lamp, é Lamp. É Lamp é Lampião. Seu nome é Virgulino, o apelido é Lampião”. Este é o hino consagrado ao rei do cangaço pelo Brasil. Um canto que eclode nas caatingas, no agreste, no Raso da Catarina, na Serra do Apodi, nos cariris, Serra Talhada, tabuleiros, lugares por onde passou o célebre cangaceiro.
'Aos 23 anos, após o assassinato do pai, Lampião tornou-se cangaceiro.
Levou consigo os irmãos Ezequiel, Antônio e Livino'
Virgulino Ferreira da Silva nasceu em Vila Bela, atual Serra Talhada – alto sertão pernambucano – no ano de 1897. Ano trágico do massacre de Canudos, onde foram assassinados milhares de camponeses. Da estirpe de Antônio Conselheiro, o famoso beato e líder político-religioso que inspirou Os Sertões, obra-prima de Euclides da Cunha, Lampião foi cangaceiro, uma categoria acima de jagunço. Com ele, muitos jagunços – vassalos dos coronéis – ascenderam à posição de cangaceiro que era símbolo de independência e individualidade. O soldo do cangaceiro dependia do que se conseguia em saques, sequestros, assaltos a fazendas e cidades. Lampião era generoso e bom pagador. Franqueava aos cabras do bando ações individuais que rendiam alguma remuneração.
O reino de Lampião durou de 1914 a 1938. Atraiu muitos jagunços e coiteiros de todo o Nordeste numa época crítica, sem muitas opções de trabalho. Calcula-se que seu grupo tinha em torno de 120 membros.
Lampião viveu todos os conflitos de seu tempo quando o sítio de seu pai, José Ferreira, em Vila Bela, foi invadido pelo fazendeiro João Nogueira e seus capangas. Invadiram as terras dos Ferreiras, cortaram orelhas dos animais. Fizeram emboscadas e trapaças, em 1911. Os Ferreiras fugiram para um sítio no interior de Alagoas e se desentenderam com o subdelegado da região que invadiu o local e matou o pai de Lampião.
'A caçada a Lampião e seu bando terminou no dia 12 de agosto de 1938.
O cangaceiro foi morto aos 40 anos, a 3 quilômetros do Rio São Francisco,na grota da fazenda Angico'
Aos 23 anos, após o assassinato do pai, Lampião tornou-se cangaceiro. Levou consigo os irmãos Ezequiel, Antônio e Livino. O apelido de Lampião foi dado pelos homens do bando de Sinhô Pereira que iniciou o jovem Virgulino no cangaço. Reza a lenda que Virgulino atirava muito bem e que o seu fuzil parecia iluminado. Atribui-se a ele a frase: “Meu fuzil não nega fogo”. A frase foi retrucada por outro cangaceiro que disse: Então não é fuzil, é lampião”. O apelido pegou e virou mito no sertão de Deus-dará. Lampião herdou o comando do bando de Sinhô Pereira aos 25 anos. A partir de 1926 algumas mulheres foram incorporadas ao bando. Lampião conheceu Maria Bonita em 1929, então mulher de um sapateiro. Fez a corte à bela Maria que abandonou o marido e optou pelo cangaço.
A caçada a Lampião e seu bando terminou no dia 12 de agosto de 1938. O cangaceiro foi morto aos 40 anos, a 3 quilômetros do Rio São Francisco, na grota da fazenda Angico. Época em que o rei do cangaço estava distraído, preocupado com a sua Maria Bonita que vivia o drama da tuberculose. A tropa do tenente João Bezerra recebeu o serviço do coiteiro de Lampião Pedro de Cândido que, segundo consta, teria levado bebida envenenada para os cangaceiros. Não houve luta. Os homens estavam bêbados e dormentes. Onze cangaceiros foram mortos, incluindo Lampião e Maria Bonita. Vinte e quatro cangaceiros fugiram pelo sertão. Acabou-se, aí, o reinado de Lampião. Mas a lenda continua.
Capitão Virgulino Ferreira da Silva
Existe uma grande polêmica em torno desse personagem fantástico que foi Lampião. Quem foi? Um bandido sanguinário, assassino e perverso? Um homem revoltado? Um justiceiro? Herói? Como conseguiu sobreviver tanto tempo lutando contra sete estados com poucos homens?
Na realidade muitas histórias se contam sobre ele, sua vida e suas andanças. Sanfoneiro, repentista, cantador, poeta, místico, muitas vezes juiz outras enfermeiro e até dentista, Virgulino gozou do respeito e da admiração da maioria da população pobre e oprimida do Nordeste. Odiando a injustiça e o poder sufocante do coronelismo, imperante na região, Lampião era a referência do povo contra os poderosos. Bandeou-se para o cangaço, por ser essa a única opção daqueles que, vítimas da perseguição dos poderosos coronéis, queriam lutar ou vingar-se de alguma forma.
Homem de fibra, coragem, inteligência superior, grande estrategista militar, exímio atirador e disposto a fazer justiça com as próprias mãos, semeou o terror contra seus inimigos em suas andanças pelos estados de: Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e Sergipe.
Apesar das agruras da vida de cangaceiro, conseguia ser alegre, festeiro, protetor de sua família perseguida, um homem de fé e esperança .
Pelas inúmeras pessoas que matou e feriu, angariou o ódio de muitos e até de familiares, que, por sua causa, foram mais perseguidos, muitos mortos ou com suas vidas arrasadas pelas volantes da polícia.
Capitão Virgulino
Breve Biografia de Lampião
Em 04 de junho de 1898 nasceu Virgulino Ferreira da Silva, na fazenda Ingazeira de propriedade de seus pais, no Vale do Pajeú, em Pernambuco, terceiro filho de José Ferreira da Silva e D. Maria Lopes. Seus pais casaram no dia 13 de outubro de 1894, na Matriz do Bom Jesus dos Aflitos, em Floresta do Navio, tendo seu primeiro filho em agosto de 1895, que chamaram Antônio em homenagem ao avô paterno. O segundo filho nasceu dia 07 de novembro de 1896, e foi chamado de Livino. Depois de Virgulino, o casal teve mais seis filhos, quase que ano a ano que foram: Virtuosa, João, Angélica, Maria (Mocinha), Ezequiel e Anália.
Virgulino foi batizado aos três meses de nascido, na capela do povoado de São Francisco, sendo seus padrinhos os avós maternos: Manuel Pedro Lopes e D. Maria Jacosa Vieira. A cerimônia foi oficiada por Padre Quincas, que profetizou:
- "Virgulino - explicou o padre - vem de vírgula, quer dizer, pausa, parada." E arregalando os olhos: - "Quem sabe, o sertão inteiro e talvez o mundo vão parar de admiração por ele".
Quando menino viveu intensamente sua infância, na região que chamava carinhosamente de meu sertão sorridente! Bricava nos cerrados, montava animais, pescava e nadava nas águas do riacho, empinava papagaio, soltava pião e tudo o mais que fazia parte dos folguedos de seu tempo de menino.
A esperteza do menino o fez cair nas predileções de sua avó e madrinha que aos cinco anos o levou para a sua casa, a 150 metros da casa paterna.
À influência educativa dos pais, que nunca cessou, acrescentou-se a desta senhora - a "Mulher Rendeira" - a quem o menino admirava quando ela, com incrível rapidez das mãos, trocando e batendo os bilros na almofada e mudando os espinhos e furos, tecia rendas e bicos de fino lavor
A primeira comunhão de Virgulino foi aos sete anos na capela de São Francisco, em 1905, juntamente com os irmãos Antônio (dez anos) e Livino (nove anos). A crisma aconteceu em 1912, aos quatorze anos e foi celebrada pelo recém empossado primeiro bispo D. Augusto Álvaro da Silva, sendo padrinho o Padre Manuel Firmino, vigário de Mata Grande, em Alagoas.
No lugar onde nasceu não havia escola e as crianças aprendiam com os mestres-escola , que ensinavam mediante contrato e hospedagem, durante períodos de três a quatro meses nas fazendas.Seu aprendizado com foi os professores Justino Nenéu e Domingos Soriano Lopes.
Ainda menino já trabalhava, carrregando água, enchiqueirando bodes, dando comida e água aos animais da fazenda, pilando milho para fazer xerém e outras atividades compatíveis com sua idade. Mais tarde, jovem, robusto passou aos trabalhos de gente grande: cultivava algodão, milho, feijão de corda, abóbora, melancia, cuidava da criação de gado, e dos animais. Posteriormente tornou-se vaqueiro e feirante .
Seu alistamento eleitoral e de seus dois irmãos Antônio e Livino foi feito em 1915 por Metódio Godoi, apesar de não terem ainda os 21 anos exigidos por lei. Sabe-se que votaram três vezes: em 1915, 1916 e 1919.
A vida amorosa dos três irmãos era como a de qualquer jovem de sua idade, e se não houvessem optado pela vida de cangaceiro, certamente teriam cada um constituído sua família e tido um lar estável como foi o de seus familiares. Até entrar para o cancaço, Virgulino e seus irmãos eram pessoas comuns, pacíficos sertanejos, que viviam do trabalho (trabalhavam muito como qualquer sertanejo) na fazenda e na feira onde iam vender suas mercadorias. Virgulino Ferreira da Silva na certa seria sempre um homem comum, se fatos acontecidos com ele e sua família (que narraremos na página "Porque Virgulino entrou para o cangaço"não o tivessem praticamente obrigado a optar pelo cangaço como saída para realizar sua vingança. Viveu no cangaço durante anos, vindo a falecer numa emboscada no dia, na fazenda Angicos, no estado de Alagoas.
A Mulher Rendeira
Virgulino, por ser muito esperto, atraiu a predileção de sua avó e madrinha de batismo, D. Maria Jacosa. Quando o menino completou cinco anos de idade, levou-o para morar em sua casa.
O menino espantava-se com a rapidez com que sua avó trocava e batia os bilros na almofada, mudando os espinhos nos furos, tecendo rendas e bicos de refinado gosto.
Virgulino foi educado tanto pelos pais quanto pela avó, a mulher rendeira. A casa da avó ficava a cento e cinquenta metros da casa paterna e, o menino brincava no terreiro das duas casas.Mais tarde, em homenagem a sua avó, comporia a música que serviria de hino de guerra para suas andanças: "mulher rendeira".
"Houve grande empenho em destruir a memória de Lampião.
Primeiro, arrasaram-lhe na Ingazeira a casa paterna e natal e a dos avós maternos, deixando unicamente restos dos torrões dos alicerces." (Frederico Bezerra Maciel)
Porque Lampião era chamado de Capitão?
Muito curiosa a história de sua patente de oficial do exército, obtida do governo federal.
No início do ano de 1926, a Coluna Prestes percorria o Nordeste em sua peregrinação revolucionária, trazendo apreensão aos governantes e colocando em risco a segurança da nação segundo avaliação do governo central.
Em meados de janeiro, estavam prontos para entrar no Ceará. A tarefa de organizar a defesa do estado coube, em parte, a Floro Bartolomeu, de Juazeiro. A influência de Floro, perante todo o país, devia-se ao seu estreito relacionamento com o Padre Cícero Romão. Por sugestão do Padre Cícero, só havia em todo Nodeste uma pessoa que poderia combater a Coluna e sair-se bem da empreitada. Indicou então o nome de Virgulino.
Floro reuniu uma força de combate, composta, em sua maioria, de jagunços do Cariri. Os Batalhões Patrióticos, como foram chamados, ganharam armas dos depósitos do exército, porque tinham apoio material e financeiro do governo federal.
A tropa, organizada, foi levada por Floro a Campos Sales, no Ceará, onde se esperava a invasão. Floro mandou uma carta a Virgulino, convidando-o a fazer parte do batalhão.
O convite foi aceito nos primeiros dias de março, quando a Coluna Prestes já estava na Bahia. Em virtude da doença e posterior morte de Floro, em 8 de março, coube ao Padre Cícero a recepção a Lampião.
Lampião chegou à vizinhança de Juazeiro no princípio de março de l926. Só atendeu ao convite porque reconheceu a assinatura de Cícero no documento. Acompanhado por um oficial dos Batalhões Patrióticos, entrou na comarca de Juazeiro em 03 de março, tendo os cangaceiros uma conduta exemplar. Prometeram a ele, o seu perdão e o comando de um dos destacamentos , caso aceitasse contaber os revoltosos. Lampião e seu bando, entrou na cidade no dia 04 de março. Na audiência com o Padre Cícero, foi lavrado um documento, assinato por Pedro de Albuquerque Uchôa, inspetor agrícola do Ministério da Agricultura, nomeando Virgulino capitão dos Batalhões Patrióticos. Esse documento dava livre trânsito a Lampião e seu grupo, de estado a estado, para combater a coluna.
Receberam uniformes, armamentos e munição para o combate.
Lampião já tinha pensado muitas vezes em deixar o cangaço. Sem dúvida, aquela era uma grande oportunidade, proporcionada pelo seu protetor e padrinho Padre Cícero. Estava disposto a cumprir sua parte no trato e todas as promessas feitas ao Padre.
Daquele momento em diante, passou a chamar a si próprio de "Capitão Virgulino".
Maria Bonita
Até 1930, ou início de 31, não se tem registro da existência da mulher no Cangaço.
Aparentemente, Lampião foi o primeiro a arranjar uma companheira. Maria Déia, que ficou conhecida posteriormente como Maria Bonita, foi a companheira de Virgulino até a morte de ambos. Maria Bonita chamava-se Dona Maria Neném, e era casada com José Nenem. Foi criada na pequena fazenda, de propriedade de seu pai, em Jeremoabo/Bahia e vivia em companhia do marido na cidadezinha de Santa Brígida. Maria não tinha bom relacionamento com o marido.
Lampião costumava passar várias vezes pela fazenda dos pais de Maria, porque a mesma ficava na fronteira entre Bahia e Sergipe. Os pais de Maria Bonita, sentiam pelo Capitão uma mistura de respeito e admiração. A mãe contou a Lampião que sua filha era sua admiradora. Um dia, ao passar pela fazenda, Virgulino encontrou Maria e apaixonou-se à primeira vista. Dias depois quando o bando retirou-se, já contava com a presença dela ao lado de Lampião, com o consentimento de sua mãe.
Maria Bonita representava o típo físico da mulher sertaneja: baixa, cheinha, olhos e cabelos escuros, dentes bonitos, pele morena clara. Era uma mulher atraente.
CORISCO
Governador do Sertão
Durante o tempo em que esteve preso por Lampião, Pedro Paulo Magalhães Dias (ou Pedro Paulo Mineiro Dias), inspetor da STANDAR OIL COMPANY (ESSO), conhecido como Mineiro, testemunhou a vida dos cangaceiros e traçou o perfil de Virgulino, segundo sua avaliação.
Lampião pediu à empresa um resgate de vinte contos de réis pelo prisioneiro e acertou que se o resgate não fosse pago, mataria Mineiro. Mineiro viveu os dias de cativeiro, atormentado por terrível temor de ser morto por Lampião. Finalmente, percebendo o estado de espírito do prisioneiro, Virgulino tranquilizou-o afirmando:
- "Se vier o dinheiro eu solto, se não vier eu solto também, querendo Deus".
Resolveu libertar Mineiro, antes porém, teve uma longa conversa com ele.
Falou para Mineiro, por sentir-se naquele momento Senhor Absoluto do Sertão, que poderia ser Governador do Sertão. Mineiro perguntou-lhe, caso fosse governador, que planos teria para governar.Ficou surpreso com as respostas, que revelaram ter Virgulino conhecimento da situação política da região, conhecento seus problemas mais urgentes.
Lampião afirmou:
- "Premero de tudo, querendo Deus, Justiça! Juiz e delegado que não fizer justiça só tem um jeito: passar ele na espingarda!
Vem logo as estradas para automóvel e caminhão!
- Mas, o capitão não é contra se fazer estrada? - objetou Mineiro.
- Sou contra porque o Governo só faz estrada pra botar persiga em cima de mim. Mas eu fazia estrada para o progresso do sertão. Sem estrada não pode ter adiantamento, Fica tudo no atraso.
Vem depois as escolas e eu obrigava todo mundo a aprender, querendo Deus.
Botava, também, muito doutor (médico) para cuidar da saúde do povo.
Para completar tudo, auxiliava o pessoal do campo, o agricultor e o criador, para ter as coisas mais barato, querendo Deus" (Frederico Bezerra Maciel).
Mineiro ouviu e concordou com Virgulino. O que acabara de ouvir representava uma parte da sabedoria do cangaceiro.
Lampião então, senhor de si, ditou para Mineiro, uma carta para o governador de Pernambuco, com a seguinte proposta:
" Senhor Governador de Pernambuco.
Suas saudações com os seus.
Faço-lhe esta devido a uma proposta que desejo fazer ao senhor pra evitar guerra no sertão e acabar de vez com as brigas... Se o senhor estiver de acordo, devemos dividir os nossos territórios. Eu que sou Capitão Virgulino Ferreira Lampião, Governador do sertão, fico governando esta zona de cá, por inteiro, até as pontas dos trilhos em Rio Branco. E o senhor, do seu lado, governa do Rio Branco até a pancada do mar no Recife. Isso mesmo. Fica cada um no que é seu. Pois então é o que convém. Assim ficamos os dois em paz, nem o senhor manda os seus macacos me emboscar, nem eu com os meninos atravessamos a extrema, cada um governando o que é seu sem haver questão. Faço esta por amor à Paz que eu tenho e para que não se diga que sou bandido, que não mereço.
Aguardo resposta e confio sempre.
Capitão Virgulino Ferreira Lampião, Governador do Sertão.
Seria Mineiro o portador dessa carta, colocada em envelope branco, tipo comercial, com a subscrição:
- Para o Exº Governador de Pernambuco - Recife" (Frederico Bezerra Maciel)
Mineiro notou que quase todos os cangaceiros eram analfabetos. Lampião sabia ler bem, mas escrevia com muita dificuldade. Antonio Ferreira lia com dificuldade e não escrevia. Apenas Antônio Maquinista, ex-sargento do Exército, sabia ler e escrever.
Enfim Lampião solta Mineiro, num ato que se transformou em festa, com muitos discursos e a emoção dos participantes.
Mineiro reconheceu nos cangaceiros, pessoas revoltadas contra a situação de abandono do sertão. Agradeceu a Deus os dias que passou na companhia de Lampião e seus cabras. Teceu elogios a Virgulino por sua personalidade capaz e inteligente. Afirmou que levava a melhor impressão de todos e que iria propagar, que o capitão e os seus, não eram o que diziam deles.
Lampião pediu então a Mineiro que dissesse ao mundo a verdade.
Despediu-se mineiro de todos, abraçando um por um os cangaceiros:
Luís Pedro, Maquinista, Jurema, Bom Devera, Zabelê, Colchete, Vinte e dois, Lua Branca, Relâmpago, Pinga Fogo, Sabiá, Bentevi, Chumbinho, Az de Ouro, Candeeiro, Vareda, Barra Nova, Serra do Mar, Rio Preto, Moreno, Euclides, Pai Velho, Mergulhão, Coqueiro, Quixadá, Cajueiro, Cocada, Beija Flor, Cacheado, Jatobá, Pinhão, Mormaço, Ezequiel Sabino, Jararaca, Gato, Ventania, Romeiro, Tenente, Manuel Velho, Serra Nova, Marreca, Pássaro Preto, Cícero Nogueira, Três cocos, Gaza, Emiliano, Acuana, Frutuoso, Feião, Biu, Sabino
Finalizando:
Cordão de Ouro, Ferreirinha, Antônio Ferreira e Lampião
Foi entrevistado pelo médico de Crato, Dr. Octacílio Macêdo.
"A entrevista teve dois momentos. O primeiro foi travado o seguinte diálogo:
- Que idade tem?
- Vinte e sete anos.
- Há quanto tempo está nesta vida?
- Há nove anos, desde 1917, quando me ajuntei ao grupo do Senhor Pereira.
- Não pretende abandonar a profissão?
A esta pergunta Lampião respondeu com outra:
- Se o senhor estiver em um negócio, e for se dando bem com ele, pensará porventura em abandoná-lo? Pois é exatamente o meu caso. Porque vou me dando bem com este "negócio", ainda não pensei em abandoná-lo.
- Em todo o caso, espera passar a vida toda neste "negócio"?
- Não sei... talvez... preciso porém "trabalhar" ainda uns três anos. Tenho alguns "amigos" que quero visitá-los, o que ainda não fiz, esperando uma oportunidade.
- E depois, que profissão adotará?
- Talvez a de negociante.
- Não se comove a extorquir dinheiro e a "variar" propriedades alheias?
- Oh! mas eu nunca fiz isto. Quando preciso de algum dinheiro, mando pedir "amigavelmente" a alguns camaradas.
Nesta altura chegou o 1° tenente do Batalhão Patriótico de Juazeiro, e chamou Lampião para um particular. De volta avisou-nos o facínora:
- Só continuo a fazer este "depoimento" com ordem do meu superior. (Sic!)
- E quem é seu superior?
- ! !
- Está direito...
Quando voltamos, algumas horas depois, à presença de Lampião, já este se encontrava instalado em casa do historiador brasileiro João Mendes de Oliveira.
Rompida, novamente, a custo, a enorme massa popular que estacionava defronte à casa, penetramos por um portão de ferro, onde veio Lampião ao nosso encontro, dizendo:
- Vamos para o sótão, onde conversaremos melhor.
Subimos uma escadaria de pedra até o sótão. Aí notamos, seguramente, uns quarenta homens de Lampião, uns descansando em redes, outros conversando em grupos; todos, porém, aptos à luta imediata: rifle, cartucheiras, punhais e balas...
- Desejamos um autógrafo seu, Lampião.
- Pois não.
Sentado próximo de uma mesa, o bandido pegou da pena e estacou, embaraçado.
- Que qui escrevo?
- Eu vou ditar.
E Lampião escreveu com mãos firmes, caligrafia regular.
"Juazeiro, 6 de março de 1926
Para... e o Coronel...
Lembrança de EU.
Virgulino Ferreira da Silva.
Vulgo Lampião".
Os outros facínoras observavam-nos, com um misto de simpatia e desconfiança. Ao lado, como um cão de fila, velava o homem de maior confiança de Lampião, Sabino Gomes, seu lugar-tenente, mal-encarado.
-É verdade, rapazes! Vocês vão ter os nomes publicados nos jornais em letras redondas...
A esta afirmativa, uns gozaram o efeito dela, porém parece que não gostaram da coisa.
- Agora, Lampião, pedimos para escrever os nomes dos rapazes de sua maior confiança.
- Pois não. E para não melindrar os demais companheiros, todos me merecem igual confiança, entretanto poderia citar o nome dos companheiros que estão há mais tempo comigo.
E escreveu.
1 - Luiz Pedro
2 - Jurity
3 - Xumbinho
4 - Nuvueiro
5 - Vicente
6 - Jurema
E o estado maior:
1 - Eu, Virgulino Ferreira
2 - Antônio Ferreira
3 - Sabino Gomes.
Passada a lista para nossas mãos fizemos a "chamada" dos cabecilhas fulano, cicrano, etc.
Todos iam explicando a sua origem e os seus feitos. Quando chegou a vez de "Xumbinho", apresentou-se-nos um rapazola, quase preto, sorridente, de 18 anos de idade.
- É verdade, "Xumbinho"! Você, rapaz tão moço, foi incluído por Lampião na lista dos seus melhores homens... Queremos que você nos ofereça uma lembrança...
"Xumbinho" gozou o elogio. Todo humilde, tirou da cartucheira uma bala e nos ofereceu como lembrança...
- No caso de insucesso com a polícia, quem o substituirá como chefe do bando?
- Meu irmão Antônio Ferreira ou Sabino Gomes...
- Os jornais disseram, ultimamente, que o tenente Optato, da polícia pernambucana, tinha entrado em luta com o grupo, correndo a notícia oficial da morte de Lampião.
- É ,o tenente é um "corredor", ele nunca fez a diligência de se encontrar "com nós"; nós é que lhe matemos alguns soldados mais afoitos.
- E o cel. João Nunes, comandante geral da polícia de Pernambuco, que também já esteve no seu encalço?
- Ah, este é um "velho frouxo", pior do que os outros...
Neste momento chegou ao sótão uma "romeira" velha, conduzindo um presente para Lampião. Era um pequeno "registro" e um crucifixo de latão ordinário. "Velinha", apresentando as imagens: "Stá aqui, seu coroné Lampião, que eu truve para vomecê".
- Este santo livra a gente de balas? Só me serve si for santo milagroso.
Depois, respeitosamente, beijou o crucifixo e guardou-o no bolso. Em seguida tirou da carteira um nota de 10$000 e gorgetou a romeira.
- Que importância já distribuiu com o povo do Juazeiro?
- Mais de um conto de réis.
Lampião começou por identificar-se:
- Chamo-me Virgulino Ferreira da Silva e pertenço à humilde família Ferreira do Riacho de São Domingos, município de Vila Bela. Meu pai, por ser constantemente perseguido pela família Nogueira e em especial por Zé Saturnino, nossos vizinhos, resolveu retirar-se para o município de Águas Brancas, no estado de Alagoas. Nem por isso cessou a perseguição.
- Em Águas Brancas, foi meu pai, José Ferreira, barbaramente assassinado pelos Nogueira e Saturnino, no ano de 1917.
- Não confiando na ação da justiça pública, por que os assassinos contavam com a escandalosa proteção dos grandes, resolvi fazer justiça por minha conta própria, isto é, vingar a morte do meu progenitor. Não perdi tempo e resolutamente arrumei-me e enfrentei a luta. Não escolhi gente das famílias inimigas para matar, e efetivamente consegui dizimá-las consideravelmente.
Sobre os grupos a que pertenceu:
- Já pertenci ao grupo de Sinhô Pereira, a quem acompanhei durante dois anos. Muito me afeiçoei a este meu chefe, porque é um leal e valente batalhador, tanto que se ele ainda voltasse ao cangaço iria ser seu soldado.
Sobre suas andanças e seus perseguidores:
- Tenho percorrido os sertões de Pernambuco, Paraíba e Alagoas, e uma pequena parte do Ceará. Com as polícias desses estados tenho entrado em vários combates. A de Pernambuco é disciplinada e valente, e muito cuidado me tem dado. A da Paraíba, porém, é uma polícia covarde e insolente. Atualmente existe um contingente da força pernambucana de Nazaré que está praticando as maiores violências, muito se parecendo com a força paraibana.
Referindo-se a seus coiteiros, Lampião esclareceu:
- Não tenho tido propriamente protetores. A família Pereira, de Pajeú, é que tem me protegido, mais ou menos. Todavia, conto por toda parte com bons amigos, que me facilitam tudo e me consideram eficazmente quando me acho muito perseguido pelos governos.
- Se não tivesse de procurar meios para a manutenção dos meus companheiros, poderia ficar oculto indefinidamente, sem nunca ser descoberto pelas forças que me perseguem.
- De todos meus protetores, só um traiu-me miseravelmente. Foi o coronel José Pereira Lima, chefe político de Princesa. É um homem perverso, falso e desonesto, a quem durante anos servi, prestando os mais vantajosos favores de nossa profissão.
A respeito de como mantém o grupo:
- Consigo meios para manter meu grupo pedindo recursos aos ricos e tomando à força aos usuários que miseravelmente se negam de prestar-me auxílio.
Se estava rico?
- Tudo quanto tenho adquirido na minha vida de bandoleiro mal tem chegado para as vultuosas despesas do meu pessoal - aquisição de armas, convindo notar que muito tenho gasto, também, com a distribuição de esmolas aos necessitados.
A respeito do número de seus combates e de suas vítimas disse:
- Não posso dizer ao certo o número de combates em que já estive envolvido. Calculo, porém, que já tomei parte em mais de duzentos. Também não posso informar com segurança o número de vítimas que tombaram sob a pontaria adestrada e certeira de meu rifle. Entretanto, lembro-me perfeitamente que, além dos civis, já matei três oficiais de polícia, sendo um de Pernambuco e dois da Paraíba. Sargentos, cabos e soldados, é impossível guardar na memória o número dos que foram levados para o outro mundo.
Sobre as perseguições e fugas deixou claro:
- Tenho conseguido escapar à tremenda perseguição que me movem os governos, brigando como louco e correndo rápido como vento quando vejo que não posso resistir ao ataque. Além disso, sou muito vigilante, e confio sempre desconfiando, de modo que dificilmente me pegarão de corpo aberto.
- Ainda é de notar que tenho bons amigos por toda parte, e estou sempre avisado do movimento das forças.
- Tenho também excelente serviço de espionagem, dispendioso mas utilíssimo.
Seu comportamento mereceu alguns comentários bastante francos:
- Tenho cometido violências e depredações vingando-me dos que me perseguem e em represália a inimigos. Costumo, porém, respeitar as famílias, por mais humildes que sejam, e quando sucede algum do meu grupo desrespeitar uma mulher, castigo severamente.
Perguntado se deseja deixar essa vida:
- Até agora não desejei, abandonar a vida das armas, com a qual já me acostumei e sinto-me bem. Mesmo que assim não sucedesse, não poderia deixá-la, porque os inimigos não se esquecem de mim, e por isso eu não posso e nem devo deixá-los tranquilos. Poderia retirar-me para um lugar longinguo, mas julgo que seria uma covardia, e não quero nunca passar por um covarde.
Sobre a classe da sua simpatia:
- Gosto geralmente de todas as classes. Aprecio de preferência as classes conservadoras - agricultores, fazendeiros, comerciantes, etc., por serem os homens do trabalho. Tenho veneração e respeito pelos padres, porque sou católico. Sou amigo dos telegrafistas, porque alguns já me tem salvo de grandes perigos. Acato os juizes, porque são homens da lei e não atiram em ninguém.
- Só uma classe eu detesto: é a dos soldados, que são meus constantes perseguidores. Reconheço que muitas vezes eles me perseguem porque são sujeitos, e é justamente por isso que ainda poupo alguns quando os encontro fora da luta.
Perguntado sobre o cangaceiro mais valente do nordeste:
- A meu ver o cangaceiro mais valente do nordeste foi Sinhô Pereira. Depois dele, Luiz Padre. Penso que Antonio Silvino foi um covarde, porque se entregou às forças do governo em consequência de um pequeno ferimento. Já recebi ferimentos gravíssimos e nem por isso me entreguei à prisão.
- Conheci muito José Inácio de Barros. Era um homem de planos, e o maior protetor dos cangaceiros do nordeste, em cujo convívio sentia-se feliz.
Questionado sobre ferimentos em combate, contou:
- Já recebi quatro ferimentos graves. Dentre estes, um na cabeça, do qual só por um milagre escapei. Os meus companheiros também, vários têm sido feridos. Possuímos, porém, no grupo, pessoas habilitadas para tratar dos ferimentos, de modo que sempre somos convenientemente tratados. Por isso, como o senhor vê, estou forte e perfeitamente sadio, sofrendo, raramente, ligeiros ataques reumáticos.
Sobre ter numeroso grupo:
- Desejava andar sempre acompanhado de numeroso grupo. Se não o organizo conforme o meu desejo é porque me faltam recursos materiais para a compra de armamentos e para a manutenção do grupo - roupa, alimentação, etc. Estes que me acompanham é de quarenta e nove homens, todos bem armados e municiados, e muito me custa sustentá-los como sustento. O meu grupo nunca foi muito reduzido, tem variado sempre de quinze a cinquenta homens.
Sobre padre Cícero Lampião foi bem específico:
- Sempre respeitei e continuo a respeitar o estado do Ceará, porque aqui não tenho inimigos, nunca me fizeram mal, e além disso é o estado do padre Cícero. Como deve saber, tenho a maior veneração por esse santo sacerdote, porque é o protetor dos humildes e infelizes, e sobretudo porque há muitos anos protege minhas irmãs, que moram nesta cidade. Tem sido para elas um verdadeiro pai. Convém dizer que eu ainda não conhecia pessoalmente o padre Cícero, pois esta é a primeira vez que venho a Juazeiro.
Em relação ao combate aos revoltosos:
- Tive um combate com os revoltosos da coluna Prestes, entre São Miguel e Alto de Areias. Informado de que eles passavam por ali, e sendo eu um legalista, fui atacá-los, havendo forte tiroteio. Depois de grande luta, e estando com apenas dezoito companheiros, vi-me forçado a recuar, deixando diversos inimigos feridos.
A respeito de sua vinda ao Ceará:
- Vim agora ao Cariri porque desejo prestar meus serviços ao governo da nação. Tenho o intuito de incorporar-me às forças patrióticas do Juazeiro, e com elas oferecer combate aos rebeldes. Tenho observando que, geralmente, as forças legalistas não têm planos estratégicos, e daí os insucessos dos seus combates, que de nada tem valido. Creio que se aceitassem meus serviços e seguissem meus planos, muito poderíamos fazer.
Sobre o futuro Lampião mostrou-se incerto, apesar de ter planos:
- Estou me dando bem no cangaço, e não pretendo abandoná-lo. Não sei se vou passar a vida toda nele. Preciso trabalhar ainda uns três anos. Tenho de visitar alguns amigos, o que não fiz por falta de oportunidade. Depois, talvez me torne um comerciante.
Aqui termina a entrevista concedida por Lampião em Juazeiro.
Na despedida Lampião nos acompanhou até a porta. Pediu nosso cartão de visita e acrescentou:
- Espero contar com os "votos" dos senhores em todo tempo!
- Que dúvida... respondemos.
Como sabemos, Lampião, o "Rei do Cangaço", não viveu o suficiente para ver todos seus planos concretizados. "
Expedita Ferreira Nunes e Vera Ferreira, respectivamente, filha e neta de Virgulino Ferreira – o Lampião – com Maria Bonita.
A família
Virgolino Ferreira da Silva era o terceiro dos muitos filhos de José Ferreira da Silva e de Maria Lopes. Nasceu em 1898, como consta em sua certidão de batismo, e não em 1897, como citado de várias obras.
A família Ferreira formou-se na seguinte sequência, por datas de nascimento:
1895 - Antonio Ferreira dos Santos
1896 - Livino Ferreira da Silva
1898 - Virgolino Ferreira da Silva
???? - Virtuosa Ferreira
1902 - João Ferreira dos Santos
???? - Angélica Ferreira
1908 - Ezequiel Ferreira
1910 - Maria Ferreira (conhecida como Mocinha)
1912 - Anália Ferreira
Todos os filhos do casal nasceram no sítio Passagem das Pedras, pedaço de terras desmembrado da fazenda Ingazeira, às margens do Riacho São Domingos, no município de Vila Bela, atualmente Serra Talhada, no Estado de Pernambuco.
Esse sítio ficava a uns 200 metros da casa de dona Jacosa Vieira do Nascimento e Manoel Pedro Lopes, avós maternos de Virgolino. Por causa dessa proximidade Virgolino residiu com eles durante grande parte de sua infância. Seus avós paternos eram Antonio Ferreira dos Santos Barros e Maria Francisca da Chaga, que residiam no sítio Baixa Verde, na região de Triunfo, em Pernambuco.
A infância de Virgolino transcorreu normalmente, em nada diferente das outras crianças que com ele conviviam. Todas as informações disponíveis levam a crer que as brincadeiras de Virgolino com seus irmãos e amigos de infância eram
nadar no Riacho São Domingos e atirar com o bodoque,
um arco para bolas de barro. Também brincavam de cangaceiros e volantes, como todos os outros meninos da época, imitando, na fantasia, a realidade do que viam à sua volta, "enfrentando-se" na caatinga. Em outras palavras, brincavam de "mocinho e bandido", como faziam as crianças nas outras regiões mais desenvolvidas do país.
Foi alfabetizado por Domingos Soriano e Justino de Nenéu, juntamente com outros meninos. Freqüentou as aulas por apenas três meses, tempo suficiente para que aprendesse as primeiras letras e pudesse, pelo menos, escrever e responder cartas, o que já era mais instrução do que muitos conseguiam durante toda sua vida, naquelas circunstâncias.
O sustento da família vinha do criatório e da roça em que trabalhavam seu pai e os irmãos mais velhos, e da almocrevaria. O trabalho de almocreve estava mais a cargo de Livino e de Virgolino, e consistia em transportar mercadorias de terceiros no lombo de uma tropa de burros de propriedade da família.
Os trajetos variavam bastante, mas de forma geral iniciavam-se no ponto final da Great Western, estrada de ferro que ligava Recife a Rio Branco, hoje chamada Arcoverde, em Pernambuco. Ali recolhiam as mercadorias a serem distribuídas pelos locais designados por seus contratantes, em diversas vilas e lugarejos do sertão. Esse conhecimento precoce dos caminhos do sertão foi, sem dúvida, muito valioso para o cangaceiro Lampião, alguns anos mais tarde.
Por duas vezes Virgolino acompanhou a tropa até o sertão da Bahia, mais exatamente até as cidades de Uauá e Monte Santo. Nesta última havia um depósito de peles de caprinos que eram, de tempos em tempos, enviadas pelo responsável, Salustiano de Andrade, para a Pedra de Delmiro, em Alagoas, para processamento e exportação para a Europa.
Esta informação nos foi prestada por dona Maria Corrêa, residente em Monte Santo, Bahia. Dona Maria Corrêa, mais conhecida como Maria do Lúcio, exercia a profissão de parteira e declarou-nos que, quando jovem, conheceu Virgolino Ferreira durante uma de suas visitas ao depósito de peles.
Como curiosidade e melhor identificação, dona Maria Corrêa é a parteira que foi condecorada pelo então presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira ao completar mil partos realizados com sucesso.
É bom frisar que as peles caprinas não eram compradas pelos Ferreira, apenas transportadas por eles, num serviço semelhante ao do frete rodoviário dos dias atuais.
Em quase todas suas viagens os irmãos tinham a companhia de Zé Dandão, indivíduo que conviveu durante muito tempo com a família Ferreira.
Nossas pesquisas na região comprovaram, através de diversos depoimentos pessoais, que José Ferreira, o patriarca da família, era pessoa pacata, trabalhadora, ordeira e de ótima índole, do tipo que evita ao máximo qualquer desentendimento.
Esses depoimentos positivos merecem especial atenção e ainda maior credibilidade por terem sido prestados por pessoas inimigas da família. Apesar da inimizade preferiram contar a verdade a denegrir gratuitamente o nome de José Ferreira.
A mãe de Virgolino já era um pouco diferente, mais realista em relação ao ambiente em que viviam. De maneira geral todos os entrevistados declararam que José Ferreira desarmava os filhos na porta da frente e dona Maria os armava na porta de trás dizendo:
- Filho meu não é para ser guardado no caritó. Não criei filho para ser desmoralizado.
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Comentários
Lino Ademar Da Silva Praxedes Praxedes Sou fã da história do cangaço, em especial a História de Virgulino Ferreira Lampião.
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Guaraci Praxedes Bandeira Tradições nordestinas que os gaúchos morrem de inveja eles so sabe usar bonbacha dancar a chula e beber cha de merda de burro o podre chimarrão barbaridade tchê


 

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