O vice-presidente Michel
Temer (PMDB) conseguiu nos últimos dias algo raro na política
brasileira: a união dos senadores tucanos Aécio Neves (MG) e José Serra
(SP) e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, em torno de uma
estratégia comum que tem como objetivo a disputa pela Presidência.
Divididos
desde o início da crise que ameaça o mandato da presidente Dilma
Rousseff, em março deste ano, os três decidiram apoiar – e, em alguns
casos, encorajar – Temer a trabalhar pelo impeachment da petista.
O vice-presidente Michel Temer é presidente nacional do PMDB
André Dusek/Estadão
© Fornecido por Estadão
O vice-presidente Michel Temer é presidente nacional do PMDB
Até meses atrás, apenas Serra era um entusiasta
da ideia de ver o peemedebista no Planalto. Aécio jogava para tirar
Temer e Dilma de uma só tacada e disputar uma nova eleição. Alckmin
queria manter a presidente no cargo até 2018, quando também termina o
mandato dele no Palácio dos Bandeirantes.
Por conta das
movimentações de seu vice, Dilma não esconde a preocupação com o
afastamento cada vez maior dele e pediu aos articuladores políticos do
governo que monitorem o PMDB com lupa. Nos bastidores, ministros avaliam
que Temer flerta com o PSDB para assegurar sua ascensão ao poder e vai
lavar as mãos em relação ao processo de impeachment.
O vice tem
conversado há tempos com os tucanos, movimento visto no Planalto como
“conspiração”. Com o mote da “pacificação nacional”, porém, Temer
circula na oposição e é assíduo interlocutor do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, fato que intriga até mesmo petistas.
A
possibilidade de debandada do PMDB começou a inquietar o governo na
sexta-feira, quando o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB),
aliado de Temer, pediu demissão. Desde então, o Planalto redobrou o
cuidado na checagem do índice de fidelidade do principal partido da
coligação, que ganhou sete ministérios há dois meses.
Adversário
de Dilma, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pressiona os
ministros como Henrique Eduardo Alves (Turismo) e Celso Pansera (Ciência
e Tecnologia) a entregar os cargos, mas eles resistem.
No Palácio
dos Bandeirantes, auxiliares do governador de São Paulo dizem que,
dependendo do pêndulo do PMDB e das vozes das ruas, o impeachment pode
evoluir rapidamente. Temer vai se encontrar publicamente com Alckmin
amanhã, na cerimônia de premiação do grupo de líderes empresariais Lide,
presidido por João Doria Jr.
Havia também a expectativa de um
encontro reservado entre Alckmin e Temer neste final de semana. A
aproximação com adversários do governo está se estreitando. Na
quarta-feira, por exemplo, horas antes de Cunha aceitar o pedido de
impeachment, Temer, que é presidente do PMDB, foi anfitrião de um almoço
com sete senadores de oposição, no Palácio do Jaburu.
À mesa foi
discutido o afastamento de Dilma. Um senador observou ali que a
presidente não poderia contar nem com Lula e muito menos com o
presidente do PT, Rui Falcão, que orientou os três deputados do partido
no Conselho de Ética a votar contra a anistia a Cunha. A decisão, com o
aval de Lula, foi uma aposta para salvar o PT, desgastado com os
escândalos.
Na prática, parte do PSDB aceita apoiar um eventual
governo de transição comandado por Temer, caso Dilma caia, desde que o
vice garanta não disputar a eleição de 2018. Tucanos dizem, porém, que
mesmo assim não ocupariam cargos porque isso seria um “salto no escuro”.
/ COLABOROU ISADORA PERON