Médicos e pesquisadores divergiram nesta terça-feira (14) sobre o chamado tratamento precoce contra a Covid-19, que envolve medicamentos cuja eficácia para prevenir ou tratar a doença não está cientificamente comprovada. É o caso da cloroquina, da hidroxicloroquina
e, mais recentemente, da ivermectina – um antiparasitário até então
usado contra pulgas e piolhos. O debate virtual foi promovido pela
comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha o combate ao novo
Coronavírus.
A deputada e médica Carla Dickson (Pros-RN), que
propôs a discussão do tema, disse que a urgência da pandemia a fez
repensar a necessidade de comprovação científica da eficácia desses
medicamentos. “Estamos falando de vidas e precisamos fazer alguma
coisa”, disse ela. Defensora da cloroquina, a deputada Soraya Manato
(PSL-ES) defendeu a autonomia dos médicos. “No momento, temos o kit
Covid-19 e é o que estamos usando”, disse.
Por outro lado, a também médica e deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ)
discordou. “O que estamos debatendo é se há comprovação do benefício
desses medicamentos. E a fala majoritária dos especialistas,
infectologistas, da OMS [Organização Mundial da Saúde] é que não há”,
disse Feghali. “Esse discurso que diz ‘não tendo nada eu dou isso aqui’,
porque o paciente vai sair mais tranquilo, achando que está curado,
esse não é nosso papel. Isso é propaganda enganosa”, completou
O secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Helio
Angotti Neto, criticou a análise isolada de artigos publicados em
revistas científicas e a politização do debate. “O ministério revisa
diariamente a literatura internacional sobre diagnóstico e tratamento de
coronavírus. Olhamos todo o contexto”, disse Angotti Neto. Ele citou
diversos artigos que atestariam evidências favoráveis à cloroquina no
tratamento precoce. “No tratamento precoce, tudo o que se tem é
favorável”, disse.
Cotada para assumir o Ministério após a saída de Nelson Teich, a
médica imunologista Nise Yamaguchi reforçou evidências da ação da
cloroquina na fase de replicação viral (reprodução do vírus), mas
reconheceu que faltam estudos conclusivos sobre a eficácia dos
medicamentos. “Faltam os estudos randomizados, mas já temos uma
meta-análise em andamento bem robusta”, disse.
Ivermectina
Médico infectologista , o presidente do Comitê Científico de Combate à Covid-19 de Natal (RN), Fernando Suassuna,
disse que não há tempo para o academicismo. Ele defendeu o uso da
ivermectina no tratamento precoce da Covid-19. “A ivermectina tem duas
histórias: tem a de 40 anos na medicina tropical e, de 2016 até agora, a
que envolve pesquisas na oncologia , no envelhecimento celular, no
ciclo autofágico, que fazem dela uma droga imunomoduladora em potencial.
Mas não falam disso. E ficam ridicularizando, porque é um remédio de
verme”, disse.
Marido da deputada Carla Diclkson, Albert Dickson, médico
oftalmologista e deputado estadual no Rio Grande do Norte, também
defendeu o uso da droga. “Um amigo do meu filho usou ivermectina por
conta própria, o que eu não recomendo, mas todos na casa dele pegaram
Covid-19 e ele não”, disse.
Qualidade dos estudos