© Foto: Rodolfo Buhrer/Reuters
'Este PT gosta de viver perigosamente', disse publicitário em carta a Dirceu
Em crise com governo, Agnelo Pacheco reclamou, em carta aprendida com
irmão de ex-ministro, da falta de contratos de sua agência no governo
Dilma Rousseff e da suposta parceria entre petistas e…
"Zé, o Gui deve ter relatado a você e o Luiz Eduardo, a situação
difícil da minha agência. Neste Governo Dilma perdemos Turismo e não
ganhamos nada. No Ministério da Saúde, nós, que há três anos éramos a
agência que mais faturava, somos hoje nos tempos do Padilha a que menos
fatura."
O trecho acima é de uma mensagem enviada pelo
publicitário Agnelo Pacheco, dono de uma das maiores agências de
publicidade do Brasil com contas no governo federal, enviada para o
ex-ministro José Dirceu - condenado no Mensalão e na Operação Lava Jato,
em Curitiba, onde está preso desde 3 de agosto de 2015.
Uma cópia
da mensagem estava guardada com Luiz Eduardo Oliveira e Silva, irmão e
sócio de Dirceu na JD Assessoria e Consultoria, de titularidade do
ex-chefe da Casa Civil no governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Dirceu
e o irmão foram condenados em 18 de maio pelo juiz federal Sérgio Moro.
O ex-ministro pegou pena de 23 anos e 3 meses de cadeia - reduzida
depois para 21 anos. O recebimento de propinas, por ele, no esquema de
corrupção na Petrobrás quando já estava condenado no mensalão, em 2012,
foi considerado pelo magistrado como um dos fatos mais perturbadores até
aqui da gigantesca Operação Lava Jato e seu rombo de mais de R$ 40
bilhões aos cofres públicos.
Nas duas páginas da carta, o assunto
tratado é uma possível parceria para que a Agnelo Pacheco participasse
da campanha eleitoral de Alexandre Padilha, que era ministro da Saúde e
deixou o cargo para concorrer ao governo de São Paulo, em 2014. Nela, há
menção à parceria com o publicitário João Santana, o marqueteiro do PT,
também preso.
A mensagem foi recolhida pela Polícia Federal como
documento de interesse da Lava Jato nas buscas feitas no endereço do
irmão de Dirceu em Ribeirão Preto (SP), quando foi deflagrada a Operação
Pixuleco - 17.ª fase da mega investigação de cartel e corrupção na
Petrobrás.
Nela, o publicitário demonstra proximidade com Dirceu.
"Sei que tudo está bem com você porque estive com sua filha, hoje, que
passou na agência", escreve ele, na abertura do texto, sem data,
identificação de origem ou assinaturas.
"Meu amigo, lamento incomodar. Lamento mesmo. Mas só temos um apoio: você."
Agnelo
relata ter procurado o ex-secretario-geral da Presidência Gilberto
Carvalho. "Há um ano tentei pedir ajuda ao Gilberto Carvalho. O Gui
entregou a ele uma carta.. E nem resposta recebi...."
O
publicitário é investigado na 11.ª fase da Operação Acrônimo, deflagrada
no dia 27 de outubro, que apura pagamento de propinas em campanhas
educativas do Ministério da Saúde, Ministério das Cidades e Ministério
do Turismo nos anos de 2011 e 2012. Seu filho Agnelo de Carvalho Pacheco
foi um dos conduzidos coercitivamente para prestar depoimento. O caso
tem como alvos centrais o empresário Benedito Oliveira, o Bené, delator
apontado como "operador financeiros" do governador de Minas Gerais,
Fernando Pimentel (PT), em esquema de corrupção e fraude eleitoral.
Confirmação
Ouvido
pela PF, Luiz Eduardo - que foi preso com Dirceu e solto dez dias
depois - afirmou que o documento encontrado, sem identificação do autor
ou origem, era do publicitário Agnelo Pacheco.
Não há datas, mas
por tratar da campanha de Padilha, a PF acreditar ter sido enviada antes
de 2014. No papel impresso, há a data de 2013.
O que se segue são
reclamações da falta de contratos e a presença de empresas do setor que
seriam ligadas a adversários políticos.
"A Propeg que é a agência
da Secom do (governador de São Paulo Geraldo) Alckmin e também da Secom
da PR (isto só ocorre no Brasil) é a agência adotada como a preferida
do Ministro Padilha. Como é que pode?"
Propeg é outra das agências
que detém contas de publicidade do governo federal e administrações do
PSDB. Ela é contratada da Secretaria de Comunicação (Secom) do governo
do Estado paulista, comandado há mais de 20 anos pelo PSDB.
Adversários
No
teor do documento, é possível identificar sua insatisfação com a
participação de empresas do setor que, segundo ele, seriam próximas do
PSDB.
"A Artplan dos Medina, ligada ao Senador Dornelles, tio do
Aécio Neves virou em 2013 a maior agência do Governo Federal: atendem
Caixa, Embratur, Ministério do Turismo, Ministério das Cidades e
Correios."
O contrato de propaganda da Artplan com a Caixa é parte
do pacote que tinha como contratada a Borghi Lowe (atual Mulen Lowe). O
publicitário Ricardo Hoffmann, executivo em Brasília da Borghi foi
preso pela Lava Jato acusado de ligação com o ex-vice-presidente da
Câmara dos Deputados André Vargas (ex-PT, hoje sem partido/PR). Ele fez
acordo de delação premiada.
"Uma agência claramente adversária tem
um número de contas que ninguém tem no Governo Dilma", reclama o
publicitário ao 'amigo Zé'.
Dornelles era senador pelo PP do Rio e foi presidente do partido de 2007 a 2013.
Garreta
O
publicitário sugere que o ex-secretário de Comunicação do governo Marta
Suplicy (PT), em São Paulo, (2000-2003) Valdemir Flavio Pereira Garreta
teria parceria com as agências que seriam "adversários".
Garreta é
próximo do presidente do PT, Rui Falcão. Faz campanhas petistas desde
que deixou os cargos públicos e abriu empresas de publicidade. Fez as
campanhas de Marcio Pochmann à prefeitura de Campinas e a de Sebastião
Almeida à reeleição em Guarulhos, em 2012.
"E como se não
bastasse, a Artplan que nunca teve escritório em São Paulo, se aliou ao
Garreta, sob as bençãos de José Américo, e ganhou a Câmara dos
Vereadores de São Paulo."
Américo é o atual secretário e
Comunicação do PT, foi secretário municipal de Relações Institucionais,
era presidente da Casa em 2013 quando a Artplan foi contratada.
Agnelo diz que a agência supostamente ligada ao PSDB venceria uma licitação na Prefeitura de Guarulhos. "Verba de 25 milhões."
Partidarização
"A
Agnelo e a agência do Dudu são as únicas que são fieis ao PT. Mas será
que vale a Pena?", questiona ele em trecho da mensagem.
O
publicitário sugere que Garreta, dono da Marka, que presta serviços em
campanhas, contas de governo e concessionárias, poderia ser beneficiado
em contratos da prefeitura paulista.
"Quando sair a licitação da
Prefeitura (estão há quase um ano com as agências que fizeram as
campanhas de Serra contra Haddad As tucanas Lua Branca e Nova SB )
certamente Garreta terá uma parte da conta através da mesma Artplan."
"Muitas
vezes me pergunto: será que o ex Presidente Lula sabe o que acontece na
publicidade do Governo do PT ? O Rui Falcão não vale porque tem ligação
Muito forte com o Garreta, desde os tempos da Marta."
Desde 2004, a Agnelo Pacheco dividia a milionária conta do Ministério da Saúde com Duda Mendonça, a Propeg e a Master.
Em
2000, foi a agência que trabalhou na campanha eleitoral de Marta para a
prefeitura paulista."Este PT gosta de viver perigosamente.", diz
Pacheco.
LEIA A ÍNTEGRA DA CARTA ENCONTRADA COM JOSÉ DIRCEU
COM A PALAVRA, O PUBLICITÁRIO AGNELO PACHECO