Alguns pacientes de covid-19 estão apresentando quadros confusionais
agudos ou delirium.
O psiquiatra Mario Louzã, do IPq (Instituto de
Psiquiatria da USP), explica que esse tipo de quadro tem inúmeras causas
e que outras infecções também podem desencadear o quadro.
Louzã explica que o quadro é diferente do que é chamado de delírio na
psiquiatria, que é um uma alteração do juízo da realidade em que o
paciente acredita em uma ideia incompatível com a realidade e não
adianta falar o contrário.
“Ele tem convicção absoluta que está sendo
perseguido, por exemplo.”
O delírio é um sintoma de uma outra doença, normalmente a
esquizofrenia, acontece com a pessoa em nível de consciência normal e é
um quadro prolongado que só costuma parar mediante tratamento
psiquiátrico.
Já no quadro confusional, também chamado de delirium, existe uma
diminuição no nível de consciência e ele pode durar de algumas horas até
alguns dias, passando de uma semana em casos muito extremos. “Vai
depender do que está causando o episódio e de quais são as
possibilidades de tratamento.”
Segundo o psiquiatra, a pessoa fica confusa, pode ficar agitada e ter
alucinações. “A gente percebe uma desorientação espacial e temporal, a
pessoa não sabe onde está, que horas são, o que ela está fazendo.”
O médico explica que é um fenômeno relativamente comum em infecções
que causam um desequilíbrio hidroeletrolítico. “O corpo tem uma série de
substâncias que precisam estar equilibradas para as células funcionarem
bem, o sódio, o potássio. Quando você tem um desequilíbrio desses
eletrólitos, isso pode afetar as células cerebrais.”
Quadros como diarreia, desidratação e insuficiência renal podem levar
a esse desequilíbrio. O delirium também pode ser sinal de uma crise de
abstinência de álcool, intoxicação por drogas e excesso de remédios.
Ele também pode ser causado indiretamente pelo quadro respiratório,
pela febre muito elevada ou até pela presença do vírus no organismo.
O quadro respiratório pode desequilibrar o equilíbrio entre oxigênio e
gás carbônico no sangue, essencial para o funcionamento das células. Se
esse desequilíbrio afetar as células do cérebro e os
neurotransmissores, também pode levar a um quadro confusional.
Além disso, o vírus pode liberar substâncias tóxicas quando é
destruído pelo sistema imunológico do corpo e, dependendo do vírus, ele
pode atacar diretamente as células do cérebro. Já foi observado que o
coronavírus pode afetar o sistema neurológico, mas as pesquisas sobre o
assunto ainda não são conclusivas.
O médico explica que o quadro normalmente é multifatorial. “São
várias situações acontecendo ao mesmo tempo no corpo, é muito difícil
você separar exatamente qual substância está causando o delirium. O
conjunto dessas coisas que acaba sendo o causador.”
O delirium acontece em pessoas que já possuem a predisposição para
ter um quadro como esse e é mais comum em crianças e idosos, pois o
sistema nervoso desses grupos é mais frágil. “Não é uma coisa de fácil
rastreamento, algumas pessoas vão ter e outras não.”
“Não surpreende que esse quadro aconteça em pessoas com covid-19. É uma doença que tem um impacto grande no corpo todo.”
Louzã afirma que em quadros confusionais muito agitados, em que a
pessoa pode, por exemplo, arrancar o cateter de soro ou colocar os
profissionais de saúde em risco, são utilizados remédios sedativos para
acalmar o paciente.
Em outros casos, os médicos investigam quais as possíveis causas para
o quadro para dirigir o tratamento. “Esse paciente já está internado,
então você sabe, se está com potássio alto, sódio muito baixo, falta de
oxigênio, cercamos as possibilidades e vamos agindo nelas, colocando a
substância que está em falta, por exemplo.”
R7