O
papa Francisco disse certa vez que o dinheiro é o esterco do diabo. Na
reforma política que Michel Temer acaba de sancionar, o estrume que
fertilizará as campanhas eleitorais de 2018 não foi bem espalhado. Por
isso, começa a cheirar mal. O dinheiro, você sabe, não traz felicidade.
Mas isso não é mais uma questão financeira a ser levada a sério pelos
candidatos endinheirados, pois o presidente da República, num gesto de
profunda miserabilidade, vetou o limite para o autofinanciamento das
campanhas.
A coisa começou a feder na quinta-feira. Em votação realizada na
velocidade de um raio, o Senado expurgou da proposta de reforma o artigo
que criava um teto de R$ 200 mil para o autofinanciamento. Fez isso
para facilitar a vida de candidatos com os bolsos maiores que as ideias.
Mas o feitiço voltou-se contra os feiticeiros. Os candidatos ficaram
sujeitos a uma outra regra, que limitava as doações de pessoas físicas a
dez salários mínimos. Coisa de R$ 9,7 mil para 2018. Um pé direito bem
menor do que os R$ 200 mil projetados pela Câmara.
Agora Temer resolveu o impasse a favor dos super-ricos. Com a canetada
presidencial, eles poderão financiar até 100% de suas campanhas. Assim,
as eleições de 2018 arriscam se tornar um grande Show do Milhão. Em vez
de comprar votos, como sempre ocorreu, os magnatas poderão comprar
mandatos.
Recursos insuficientes
Para o presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, os
recursos do fundo eleitoral aprovado pelo Congresso – no valor de R$
1,7 bilhão – serão insuficientes para bancar a campanha de 2018 e sugere
ao Congresso continuar o debate sobre novas fontes de financiamento dos
candidatos.