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Fábio Faria, o deputado “Garanhão” das planilhas da Odebrecht
matheuscedro
O executivo Alexandre José Lopes Barradas disse em
delação premiada
que tratou do pagamento de caixa 2 em 2010 diretamente com o deputado
federal Fábio Faria (PSD-RN), conhecido como “Garanhão” na planilha da
empreiteira.
Na época, Fábio Faria concorria a uma cadeira na
Câmara dos Deputados, enquanto o pai, Robinson Faria (PSD), era o vice
na chapa encabeçada por Rosalba Ciarlini (PP) na disputa pelo governo do
Rio Grande do Norte. Hoje, Robinson é o governador do Estado e Rosalba,
prefeita de Mossoró.
“Ele (Fábio Faria) falou que precisava de R$
100 mil pra campanha dele e R$ 350 mil seriam repassados pra campanha
majoritária (de Rosalba Ciarlini ao governo estadual), mas essa conversa
foi só com ele. Não teve o pai dele nessa conversa”, disse Barradas em
depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR).
Indagado se o
parlamentar perguntou de onde vinha o dinheiro, Barradas foi categórico:
“A maneira de fazer (o repasse) foi logo colocada: ‘Agora eu não tenho
condições de fazer forma oficial, eu tenho de fazer via caixa 2…’ Isso
foi falado”.
Rosalba foi eleita governadora do Rio Grande do Norte
no primeiro turno das eleições com 52,46% dos votos válidos. Fábio
Faria, por sua vez, garantiu uma cadeira na Câmara dos Deputados naquela
eleição.
Segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
Barradas tinha a função de identificar lideranças políticas que pudessem
apoiar e criar um ambiente favorável aos projetos de parcerias
público-privadas e privatizações no mercado de saneamento.
“Toda
doação de uma empresa tem sempre uma ideia… Ou ela vai apoiar uma pessoa
pelas ideias, mas sempre um sentimento… Até uma instituição de caridade
você doa porque está vendo um trabalho bem feito ali. Toda doação tem
sempre um objetivo”, comentou Barradas em seu depoimento.
“Você
não pode apoiar um candidato com ideias estatizantes, vai ser um choque.
Porque se o cara é estatizante, está na contramão daquilo que nós
vendemos”, explicou o delator.
Segundo Barradas, a questão do
saneamento foi um dos principais pontos discutidos com Rosalba, que lhe
teria prometido que a área seria prioridade de sua gestão, caso fosse
eleita.
Para Janot, as condutas narradas “não se tratam de mera
doação eleitoral irregular”. “Vislumbra-se, na verdade, uma solicitação
indevida em razão da função pública que se almeja ou que ocupa, a
pretexto de campanha eleitoral. Por esta razão há fortes indícios de que
se está diante de crimes graves que precisam ser minuciosamente
investigados. O recebimento de valores a pretexto de doação eleitoral
pode configurar verdadeiro ato de corrupção com um lastro de dependência
entre recebedor e doador que pode ser cobrado imediata ou futuramente,
não determinado, mas certamente determinável”, escreveu o
procurador-geral da República, ao pedir a abertura de inquérito.
A
reportagem não obteve resposta do deputado federal Fábio Faria do
governador Robinson Faria e da prefeita Rosalba Ciarlini. Além de
Robinson Faria, outros dois governadores são investigados no Supremo
Tribunal Federal (STF) com base nas delações da Odebrecht: o de Alagoas,
Renan Filho (PMDB), e o do Acre, Tião Viana (PT).