A delação de Antonio Palocci é dada como certa entre petistas desde a
semana passada. Na abertura da etapa paulista do 6.º Congresso Nacional
do PT, na sexta-feira da semana passada, a “traição” do ex-ministro era
um dos assuntos principais. Em tom que variava entre a indignação e a
resiliência, petistas comentavam que Palocci iria entregar o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em troca do acordo com o
Ministério Público Federal.
A certeza dos petistas vem de recados dados por pessoas próximas ao
ex-ministro da Fazenda (Lula) e Casa Civil (Dilma Rousseff) e também
pela lógica da exclusão. Segundo eles, Lula é o único alvo que a Lava
Jato ainda não conseguiu alcançar e Palocci, dada a proximidade com o
ex-presidente até bem pouco tempo atrás, poderia preencher lacunas que
dariam mais solidez às denúncias contra Lula.
A indignação dos petistas com o ex-ministro aumenta diante das
suspeitas que pesam contra Palocci. Ao contrário do ex-tesoureiro do
partido João Vaccari Neto, preso por supostamente operar o esquema de
caixa 2 do PT, Palocci é acusado de enriquecimento pessoal.
Sob a condição de sigilo, petistas dizem que o ex-ministro quer
preservar seu patrimônio, em grande parte acumulado no período dos
governos do partido, ao tentar o acordo de delação premiada.
Preso político
Mesmo assim o PT estadual de São Paulo aprovou um texto no qual
Palocci, Vaccari e José Dirceu são tratados como “presos políticos”.
Segundo dirigentes, foi uma tentativa de acalmar o ex-ministro.
Dado o amplo acesso que Palocci tinha a Lula, correligionários
avaliam que o estrago da delação será grande, podendo levar à
inviabilização da candidatura do petista à Presidência em 2018.
‘Não sei’
Já no entorno de Lula a torcida é para que o ex-ministro poupe o
ex-presidente. Um ex-auxiliar do círculo mais próximo ao petista disse
esperar que Palocci diga somente a “verdade”.
E a “verdade”, segundo essa fonte, é que o “ex-presidente Lula sempre
disse para ele cuidar desse negócio (de dinheiro para campanhas), que
não queria saber de onde veio o dinheiro e que o PT que se virasse para
financiar seus candidatos”.
De acordo com interlocutores de Lula, Palocci e depois Guido Mantega
foram encarregados de gerenciar o caixa 2 petista justamente para
preservar e blindar o ex-presidente.
Outra certeza petista é que a delação de Palocci vai ampliar muito o
escopo da Lava Jato trazendo para o olho do furacão setores do
empresariado nacional com quem o ex-ministro tinha grande proximidade e
que até então passaram ilesos pelas investigações de Curitiba. O
principal deles é o setor financeiro.
Estado de São Paulo