RIO - Condenado a sete anos e 14 dias de prisão no processo do mensalão, o ex-deputado Roberto Jefferson
obteve perdão da pena no último dia 22
e se prepara para reassumir em 14 de abril, a presidência do PTB,
atualmente ocupada por sua filha, a deputada Cristiane Brasil. Quer
voltar ao comando partidário ainda durante o processo do impeachment da
presidente Dilma Rousseff, ao qual é favorável.
Pelos cálculos
do petebista, 17 dos 19 deputados do partido deverão votar contra
Dilma. O indulto acabou com proibições impostas pelo Supremo Tribunal
Federal (STF), como falar de política e só viajar com autorização
judicial. Em entrevista ao Estado, Jefferson, de 62
anos, volta à velha forma: mistura acusações a antigos aliados, ironia e
lembranças do período de pouco mais de um ano em que ficou na prisão.
Jefferson
diz que, na época do mensalão, não sabia, mas agora tem certeza de que o
ex-presidente Lula sabia da corrupção que envolvia o PT e parlamentares
da base. “Eu tive a impressão de que o mentor intelectual do mal era o
Zé Dirceu (ex-deputado federal, condenado pelo mensalão e preso por envolvimento no esquema de corrupção da Petrobrás).
Mas hoje (...) não tenho mais dúvida de que o Lula estava a par de
tudo. Não aconteceu sem que o Lula soubesse. O Lula realmente sabia de
toda essa corrupção e ele institucionalizou essa corrupção a partir
dessa chefia do governo.”
Embora veja legitimidade no deputado
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que é investigado na Operação Lava Jato, para
presidir a Câmara durante o processo do impeachment, Jefferson diz não
ter dúvida de que o peemedebista será preso. “Eduardo é o bandido pelo
qual eu mais torço”, diz. “Ele foi o adversário mais à altura do Lula.
Lula nunca esperou encontrar um bandido da mesma qualidade moral,
intelectual que ele”, ironiza.
Como foram os primeiros dias depois do indulto?
Quarta-feira à noite o pessoal foi lá e tirou a tornozeleira. Quinta-feira de manhã cedinho peguei a moto e fui embora (para Levy Gasparian, cidade no interior do Estado). Fiquei tão tenso que a minha mão direita doía. Eu andava dentro do condomínio (onde mora, na Barra da Tijuca, zona oeste carioca), mas é diferente. Rodei 600 quilômetros só para matar a saudade do asfalto.
O
senhor vê paralelo do processo de impeachment da presidente Dilma e do
ex-presidente Fernando Collor de Melo, que acompanhou de perto?
A
questão moral é a mesma. O que motivo o impeachment do presidente
Collor foi uma acusação de corrupção. O que motiva o impeachment contra a
presidente Dilma e o PT é o sentimento de corrupção. Contra o Collor
havia uma mobilização da empresa paulista, que havia sofrido a queda do
monopólio, a indústria automobilística, que teve que abrir para ter uma
competição com carros mais modernos. Havia uma grande contrariedade da
Fiesp, da Febraban. Havia o ódio petista das derrotas sofridas, o
ressentimento da elite do PSDB de São Paulo, que havia perdido a eleição
para o Collor. Era mais conduzido partidariamente e mais ligado ao
movimento econômico. Hoje a diferença, apesar da corrupção, é que é uma
coisa da classe média, A, B, C, que foi para a rua espontaneamente. O
povo quer fora PT, fora Lula, fora Dilma, o fim da corrupção. O
impeachment do Collor foi mais político, nasceu dentro do Congresso
Nacional. O impeachment que movimenta a sociedade contra a Dilma é
judicial. Não é um impeachment com motor político. O herói é o juiz
Sérgio Moro, os promotores do Paraná.
© Fornecido por Estadão
- O ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ)
Os defensores da presidente apontam golpe, no sentido de que a
Constituição não está sendo respeitada. Como o senhor vê essa reação?
Eles querem fazer um paralelo com João Goulart (presidente deposto no golpe de 1964).
Ali podemos dizer que foi um golpe, não uma revolução. Agora não há um
movimento para derrubar o governo com uma ruptura constitucional. O
impeachment é legal, é constitucional, tem o rito constitucional
fiscalizado pelo Supremo Tribunal Federal. Não há golpe. Dilma não pode
se comparar ao Jango. O impeachment da Dilma se compara ao do Collor.
Quando o senhor, que fazia parte da “tropa de choque” do Collor, percebeu que o impeachment seria aprovado na Câmara?
Eu
sempre achei que o Collor não sairia do impeachment, ele era muito mal
visto. Era uma espécie de Dilma de saco roxo, como ele costumava dizer. A
Dilma é autoritária, arrogante, o Collor era assim no passado. Ninguém
gosta dela. Quando a pessoa vê a oportunidade de dar um pontapé, vai
dar.
Mas é preciso haver crime para haver impeachment. Há prova de crime?
Tem
a pedalada fiscal, tem essa questão eleitoral, o esquema montado para
financiamento da campanha. Aquele PC Farias era menino de procissão
perto dessa turma do PT.
O senhor acredita que a
presidente Dilma e o ex-presidente Lula sabiam da forma como chegavam os
recursos para as campanhas eleitorais?
À época do
mensalão, eu não acreditava, eu achava que parava na Casa Civil. Eu tive
a impressão de que o mentor intelectual do mal era o Zé Dirceu. Mas
hoje, com as provas colhidas, com a abertura que a imprensa fez do
material colhido, tenho absoluta certeza de que o Lula era senhor de
tudo que havia no País.
Existem provas disso?
Essas delações premiadas, o (ex-deputado) Pedro Corrêa dizendo isso, o senador Delcídio Amaral (ex-líder do governo no Senado)
dizendo isso. Não tenho mais dúvida de que o Lula estava a par de tudo.
Não aconteceu sem que o Lula soubesse. O Lula realmente sabia de toda
essa corrupção e ele institucionalizou essa corrupção a partir dessa
chefia do governo.
Essa tese vale para o mensalão e para o petrolão?
Posso
falar agora que vale para o mensalão. Naquela época eu não poderia
falar. Vi outro dia o Pedro Corrêa dizendo que o financiamento do
mensalão vinha do petróleo, uma das fontes do mensalão era o petróleo.
Era muito dinheiro para ser apenas o Marcos Valério através de uma conta
de publicidade.
Quando o senhor deixou a prisão, em maio
do ano passado, o senhor fez um gesto indicando que estava entalado com o
petrolão, mas estava impedido de falar pelo STF. O que isso significa? O
senhor conhecia a conexão entre o petrolão e o mensalão?
Não conhecia, não. Não imaginei que chegasse tão longe o processo de corrupção instituído pelo PT. Foi inusitado para mim.
O senhor tinha conhecimento do esquema de corrupção na Petrobrás?
Eu
não soube dessas coisas da Petrobrás naquela época. O que eu sei é que a
Petrobrás sempre foi a empresa elite dos partidos mais poderosos. As
estatais no Brasil são o braço financeiro das corporações sindicais e
dos partidos. Quem financia partido político são as estatais. Vamos ter
que repensar isso. Se queremos país moderno, vamos ter que fazer
privatização, porque não vai permitir a concentração da corrupção. Um
assalto de US$ 1 bilhão como o (da refinaria) de Pasadena você
não ia escutar em lugar nenhum. Só na concentração de poderes que a
Petrobrás tem. O Brasil vai ter que enfrentar a privatização. A estatal é
a semente da corrupção no Brasil. Os partidos políticos disputam os
cargos nas estatais para seu financiamento. No fragor dessas denúncias
está Dona Dilma, pegando de volta as estatais do PMDB para distribuir no
varejo para os deputados. Isso é corrupção. O que vão assaltar nos seis
meses enquanto durar o processo de impeachment dela é uma loucura. Vai
todo mundo querer fazer caixa, porque ela cai em seis meses. “Cobra 100%
de comissão aí!” Tem que ser rapidinho, vai ser igual dinamite em caixa
de banco.
O PTB pleiteou alguma diretoria ou gerência importante na Petrobrás?
Nunca, nós éramos muito pequenos. O PTB teve a presidência da Eletronorte, a diretoria do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) e aquela diretoria dos Correios.
E Furnas?
Uma
diretoria nos foi oferecida pelo presidente Lula, para compensar a não
transferência dos recursos nas eleições em que PT fechou acordo com PTB.
O PTB fechou uma grande aliança com o PT nas capitais, a Marta (Suplicy)
foi eleita com apoio do PTB em São Paulo. Eles ofereceram R$ 20 milhões
para financiamento do PTB e deram R$ 4 milhões. Foram os R$ 4 milhões
que o Marcos Valério levou. Como eles não cumpriram os R$ 16 milhões e
no PTB ficamos com uma grave dívida e uma crise interna, o presidente
Lula tentou montar para o PTB um caminho de financiamento para suprir
esse gasto, a diretoria de Furnas (de Engenharia), onde estava o Dimas Toledo. Mas não se concretizou.
O que aconteceu? Havia um esquema anterior?
Havia.
Eu soube disso quando indicamos doutor Francisco Spirandel para ocupar o
lugar do Dimas. Recebi contato do Zé Dirceu para que eu fosse conversar
com ele na Casa Civil. Ele disse “em vez de trocar o Dimas, por que a
gente não faz um acordo, você mantém o Dimas e ele passa a ajudar o
PTB?” Eu disse “da minha parte, sem problema”. Dimas foi à minha casa
conversar, foi quando conheci o Dimas. Dimas disse “minha diretoria
rende de apoio R$ 3 milhões por mês, mas eu tenho comprometidos R$ 1
milhão com o PT de Minas, R$ 1 milhão com o PT Nacional, dou R$ 600 mil a
12 deputados do PSDB, R$ 50 mil a cada um, eles apoiam de vez em quando
o governo federal. E R$ 400 mil para a diretoria.
E qual era a origem desse dinheiro?
Os
contratos que ele gerenciava lá na Engenharia. Comissão da Engenharia.
Então combinamos: a gente mantém o apoio ao PT de Minas, aos 12
deputados que ajudam nas votações mais importantes do governo do Lula e
passa a dar R$ 1 milhão para financiar o PTB Nacional. Eu falei “da
minha parte, perfeito”. Estava fechado e marcamos encontro com o
presidente Lula para comunicar que não precisava trocar o Dimas, que
tinha esse acordo. Eu, Zé Dirceu, Walfrido dos Mares Guia, que era
ministro do PTB, e o presidente Lula. Lula perguntou “quando esse cara
de vocês, Spirandel, assume?” Eu disse que havia o acordo de convivência
do PTB com o PT. (Lula disse) “Quero ouvir de você”. E eu
contei o que acabei de dizer para você. Lula disse “não estou de acordo,
porque esse Dimas é o cara do Aécio, só faz propaganda para o governo
de Minas, do Aécio, se vocês não trocarem eu vou trocar”. Eu disse
“então bota o Spirandel”. Quando acabou a reunião, Zé Dirceu me
interpela “você quis o boi com chifre e tudo, se você bate o pé, ele
mantém o Dimas’. Eu disse “Zé, por que você não interveio?” Desci com
Walfrido para a garagem, ele segurou meu braço e disse “você foi para o
céu”. Eu disse “acho que eu fui para o inferno, a reação do Zé Dirceu
foi muito ruim”. Uma semana depois veio a matéria da Veja (que exibiu gravação de um funcionário dos Correios cobrando propina e dizendo que falava em nome de Jefferson), que se assemelha à verdade, mas não é a verdade. Zé Dirceu montou com a Veja aquela matéria.
E o movimento seguinte foi o senhor revelar o esquema do mensalão?
Tentaram
segurar, disseram para eu deixar a presidência do PTB, iriam nomear um
deputado ferrabrás, mas que faria um relatório final não me indiciando.
Eu disse “não conta comigo não, entrei pela porta da frente e é de onde
vou sair, mas prepara porque vai ter tiro daqui, vou pegar vocês, o que
eu tenho vou botar para fora”. Deu no que deu. Ali foi a origem de tudo,
a origem desse momento que o Brasil vive hoje. Eu te confesso que até
aquele momento eu achava que o PT, que o Lula, tinham ética. Um partido
igrejeiro, quase de batina, de barba preta e sotaina, nascido do útero
da Igreja.
Quem eram os 12 deputados do PSDB que recebiam propina de Furnas?
Não
sei, não perguntei. Devem ter ajustado um grupo de 12 deputados
federais que, naquelas votações mais importantes, votava com o governo.
O senhor foi indiciado pela Polícia Civil do Rio por corrupção e lavagem de dinheiro relacionado a Furnas. Como vai responder?
Pedi
ao Ministério Público para me ouvir. Uma delegada pediu meu
indiciamento indireto sem me ouvir. Não me furto a nada. Ela disse que
eu confessei. Nós não recebemos. Eu pensei que a lei punisse só fato
consumado. Nunca vi a lei punir intenção. O PTB nunca recebeu nenhum
recurso de Furnas, do Dimas Toledo, ele não chegou a operar para ajudar
do PTB. Vou esclarecer. Faz parte da vida. Eu tive que me eviscerar para
dar essa partida, para tirar a máscara da face do PT, botar o rei nu. E
a evisceração provoca esse tipo de julgamento açodado. “Esse cara é
Judas, vamos malhar”. Eu tenho que compreender.
Como petrolão e mensalão se conectavam?
Hoje
eu leio o petrolão como fonte de financiamento do mensalão. Um dos
graves problemas do PT foi o financiamento dos partidos políticos. Hoje
pode fazer PMB, PSD, P não sei o quê...tem 40 partidos. Quando o PT
encontra resistência em uma direção partidária, dissolve aquele partido,
pega um grupo, faz outro partido. Quem se manteve firme e não se
fragmentou foi o PMDB. Quando o PMDB viu que o PT estava tentando
esfacelar o partido, criando esse PSD com o ex-prefeito de São Paulo (Gilberto Kassab) começou ali a reação. Eduardo Cunha vem reagindo a partir dali. Essa janela que abriram agora (que permitiu troca de partido)
é mensalão de novo. Os caras que se aproximavam para conversar pediam
luvas de R$ 1 milhão, R$ 600 mil e mensalão de R$ 30 mil, R$ 40 mil, R$
50 mil por mês. É a mesma coisa do mensalão. Aconteceu tem dez dias. O
PTB foi assediado.
Por quem?
Teve gente que me procurou (para ir para o PTB).
“Preciso de R$ 1 milhão”. Eu disse “aqui no PTB não se paga mensalão
para ninguém”. Eram deputados de outra legenda que vinham com essa
conversa para passar para o PTB. Perdemos alguns deputados e sei que
cantaram na orelha deles essa conversa. Quem patrocina? O PT, o governo.
Não vou citar ninguém. Está na raiz do PT a corrupção. Pelo que vejo, (o dinheiro que abastecia o mensalão)
vinha de vários lugares. As estatais estão sempre na corrupção e as
para estatais, que são as empreiteiras. Não tenho pena da Odebrecht,
tinha que fechar. Dá chance às pequenas que estão começando no Brasil.
Não pode importar uma empresa de fora. Que conversa é essa de ‘o
petróleo é nosso, a ponte é nossa’. Quem vier para cá vai ter que
contratar a mão de obra aqui.
Por que o PTB não tinha espaço na Petrobrás?
Tinha
um senador do PTB, não em acordo de partido, que mandava na BR, nessas
cooptações que o PT fez no Senado, no varejo. Mas o PTB nunca esteve em
direção de qualquer empresa desse porte. Não sou santo nem quero fingir
que sou. Mas eu sempre tive limites, nunca passei da linha amarela.
Quando sentava um empreiteiro na minha frente, levado, vamos dizer, pelo
presidente da Eletronorte. Eu dizia “leve em consideração três coisas
para ajudar o PTB: primeiro, o interesse da empresa estatal; segundo, o
interesse da sua empresa; terceiro o que você puder dar”. Sempre a
conversa foi confortável. “Naquela época tinha caixa 2. Hoje não existe
mais. Ele perguntava “como o senhor quer receber?” Eu dizia “como você
quiser dar ao PTB, por dentro, por fora”. As coisas eram tratadas dessa
maneira.
Por que o senador e ex-presidente Fernando Collor deixou o PTB?
Porque
não está conformado, porque a direção nacional do partido se posiciona
pelo impeachment. Ele pediu um pouco de moderação, achava que a
Cristiane (Brasil, filha de Jefferson, deputada federal e presidente nacional do PTB)
estava sendo muito dura com a presidente Dilma, com o presidente Lula.
Eu falei: “ela não vai mudar o discurso e eu não vou pedir a ela para
mudar”. Essa foi a principal razão. Eu aproveitei e cobrei que ele
organizasse o PTB em Alagoas. Só ele tem se elegido. Tem que fazer
vereador, prefeito. Fomos cordiais um com o outro. Realmente a Cristiane
tem que moderar um pouquinho.
Acredita que haverá condenações e prisões no petrolão como houve no mensalão?
Penso que o Lula não vai escapar. O mensalão parou na antessala dele, na Casa Civil. Mas o petrolão entrou dentro do Palácio (do Planalto). Ou esse (Marcelo)
Odebrecht fala ou vai levar 30 anos na cadeia. Marcos Valério levou uma
martelada de 40 anos. O processo do petrolão é diferente do mensalão. O
mensalão surgiu do embate político, de uma denúncia que eu fiz. No
petrolão não tem nem voz da oposição. A oposição está em silêncio porque
muito dos seus estão comprometidos, tem muita gente da oposição
enroscada nas empreiteiras.
Já houve um comentário de que o
senador Delcídio Amaral seria um novo Roberto Jefferson, por causa da
delação premiada que ele fez. O que o senhor acha?
Vejo
com bons olhos, apesar de eu não ter feito delação premiada. Nem
pleiteei isso. Arquei com as consequências das minhas atitudes. Eu fiz
uma luta política. O juiz perguntou se eu queria fazer e eu disse que
delação premiada é conversa de canalha. Hoje tenho até outra visão
disso. Penso que Delcídio fez uma bela contribuição. O gesto dele de
tentativa de obstrução à Justiça foi menos grave que o ministro (Aloizo) Mercadante. Mas houve dois pesos e duas medidas. Delcídio foi preso, e Mercadante sequer foi incomodado.
Por que o senhor mudou de opinião em relação às delações?
A Lava Jato não teria avançado (se não fossem as delações). Eu fui condenado até mais que o Genoino (José Genoino, ex-presidente do PT),
que assinava as promissórias do PT e dizia que assinou sem ver. Isso é
conversa de petista. “O sítio é do meu amigo, o apartamento é do meu
amigo, o barquinho é do meu amigo." Isso é conversa de petista. O que eu
fiz eu assumi. Mas não me abati, nunca reclamei, respeitei a decisão,
cumpri a decisão. Se tivesse que fazer, fazia tudo de novo. É o preço
que eu tive que pagar pelas atitudes que cometi. Hoje eu não repetiria
essas atitudes.
O que o senhor não repetiria?
Não
faria parceria com o PT. O PT não dá, quer se aboletar no poder, quer
transformar o País em uma ditadura comunista, socialista. Isso eu
repilo, tenho pavor, acho um atraso.
O senhor vai voltar para a política?
Para
a política eleitoral, talvez não. Lá em casa já tem deputada federal.
Prefiro presidir o partido. Depois do indulto, está uma pressão para que
eu reassuma. Minha filha quer me reconduzir à presidência do PTB.
Preciso chegar agora, tanto para ajustar minha biografia, como para
participar desse movimento que é um ponto final da corrupção
institucionalizada.
Como o senhor vai orientar o PTB? O partido está dividido em relação ao impeachment?
Você vai ter uma surpresa. Divisão é meio a meio. São 19 deputados, eu penso que no máximo o PTB dará dois votos a Dilma.
E o relator do processo, deputado Jovair Arantes, que é do PTB?
O relator vai acompanhar o sentimento da maioria da comissão (do impeachment).
Penso que o Jovair não fará um relatório ofensivo à presidente. Ele vai
se basear tecnicamente. Não é o que ele está me dizendo, é minha
maneira de ver. Jovair é hábil e equilibrado. Relator tem que ouvir
todos, tirar a média ponderada. Se ele se expressar pelo impeachment,
não será com uma linguagem panfletária, ofendendo a presidente, a
memória, o currículo da presidente. As pessoas vão se surpreender com o
relatório do Jovair.
Na Comissão do Impeachment, como está o peso de deputados a favor e contra?
Acho que dá dois terços a favor do impeachment. No plenário, penso que Dilma não chegará a 150 votos.
Se houver impeachment, qual será a posição do PTB em um possível governo de Michel Temer?
Michel
não pode errar, tem que ter um ministério acima do bem e do mal, de
gente capaz, qualificada. Não pode ter suspeita. Vai ter que ser um
governo tipo Itamar Franco. Temer tem que fugir dos que vão com goela
aberta. Minha sugestão para preenchimento de vagas em estatal é chamar
uma comissão do Ministério Público. Senado não adianta, porque é o
senador que indica.
O PTB vai fazer parte do governo?
O
PTB não é de gente oferecida. Queremos uma pauta moderna, de
privatização. Acho que Temer tem que ser estadista, tem que levar esse
governo com cautela, apresentar emenda do fim da reeleição com mandato
de cinco anos.
O deputado Eduardo Cunha tem legitimidade para presidir a Câmara no momento em que está em curso o processo de impeachment?
Tem
legitimidade, sim. Ele responde a vários inquéritos, tem que ter
cuidado. Minha preocupação é que a prisão humilha muito as pessoas. Para
ele a situação vai complicar. Vai levantar de manhã cedo... chinelo de
dedo, bermuda azul, camiseta branca. Está lá no coletivo dos presos,
aquele cheiro de gente doente, com tuberculose, com Aids. Banheiro com
cheiro terrível, banho frio. De manhã cedo, todo mundo em fila. “Senhor
Roberto Jefferson!” “Presente, senhor.” Cabeça baixa, mão para trás. De
noite, o “confere”, aquela averiguação que se faz. É duro. Dinheiro
contadinho, R$ 100 por semana para comprar na cantina. E quem tem R$ 100
tem que comprar para todo mundo. Se furar a bola, tem que dar uma bola
nova. Tem que aturar isso. Limpar privada, varrer o chão. O que me
preocupa são as filhas e a esposa, mulheres bonitas, cheirosas, entram
lá naquele meio, vão ser assediadas. Vão acordar (na prisão)
com aquelas mulheres deitadas na cama, vão apanhar na cara, vão
denunciar, vão apanhar de novo. O cara vai ter que aturar isso. O
ambiente prisional é muito duro, muito triste, muito pesado. O cara não
pode expor a esposa, a filha. Não ataca a Justiça, não ataca o
Ministério Público, o Judiciário. Respeita. O cara tem 20 contas no
exterior, nunca declarou. Gastos milionários em cartão de crédito. Traz
para si, tira a esposa e a filha. Ele não pode permitir a filha e a
esposa passarem por isso. É a preocupação que eu tenho. As coisas são
muito evidentes.
É possível Cunha responder aos inquéritos e continuar no comando da Câmara?
É ele que tem que conduzir (o processo do impeachment). Ele está lá (na presidência da Câmara).
Ele foi o adversário mais à altura do Lula. Lula nunca esperou
encontrar um bandido da mesma qualidade moral, intelectual que ele. O
bandido pelo qual eu mais torço é o Eduardo Cunha. Vai puxar a barba do
Rasputin. Gelado, frio, equilibrado. O Lula , o PT e esse fórum de São
Paulo (conferência de partidos de esquerda latino americanos) são
bandidos da laia do Eduardo Cunha, topam tudo. Como Deus faz as coisas.
Botou um cara ali que qualquer jogo ele joga, qualquer parada ele topa e
sabe onde aperta o calo do outro bandido. Pega o outro bandido na
esquina. Dudu é o bandido que eu mais gosto, o vilão que eu torço por
ele, o vilão da minha novela. E estou doido para ele puxar a barba do
Rasputin.
O senhor viu as mudanças que aconteceram no Conselho de Ética e atrasaram o processo contra o presidente da Câmara?
Tenho
horror ao Conselho de Ética. Conselho de Ética e CPI são coletivos de
donzelas furadas. Sabe o que é? Uma vez fui ao mercado de Salvador e o
menino dizia “donzela furada, três por cinco reais”. É uma rosquinha de
polvilho, que aqui a gente trata de mentirinha. Aquela comissão de ética
e as CPIs são impregnadas de donzelas furadas, tudo mentirinha. Todo
mundo rabudo querendo pisar no rabo do outro para se lavar. Tenho
aversão.
Em entrevista ao 'Estado', o ex-deputado, condenado à
prisão no mensalão e com pena recém-perdoada pelo STF, fala sobre o
esquema de corrupção da Petrobrás, o impeachment de Dilma e o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva