O governo saiu amplamente
derrotado da maratona de sete horas que o STF realizou na última noite
para julgar ações sobre o processo de impeachment.
A
maioria dos ministros rejeitou pedido da Advocacia-Geral da União para
que fosse anulado o relatório da comissão especial da Câmara que
recomendou a abertura de processo contra a presidente Dilma Rousseff.
Antes,
em outro julgamento desfavorável ao governo, a Corte também decidiu
manter a ordem estabelecida pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha,
para a votação marcada para este domingo em que os deputados avaliarão
se autorizam ou não abertura do processo de impeachment. A decisão de
Cunha prevê que a maioria dos deputados do Nordeste, região na qual em
tese há maior apoio à Dilma, votará por último.
Segundo
decisão de Cunha, os votos na sessão de domingo serão colhidos por
Estados, alternadamente. Dessa forma, serão convocados à tribuna para
anunciar seu posicionamento todos os deputados de um Estado para só
então se passar ao seguinte.
A
ordem estabelecida pelo peemedebista deixa a maioria dos Estados do
Nordeste para o fim. Deputados governistas reclamaram dessa decisão
porque entendem que a presidente tende a ter mais apoio no Nordeste.
Eles temem que, caso Estados de outras regiões votem antes, isso
provoque uma forte arrancada no placar pró-impeachment, levando a um
efeito manada contra Dilma.
Prevaleceu
no STF, no entanto, o entendimento de que a Corte não deveria
interferir na decisão do presidente da Câmara. Dessa forma, ficou
estabelecida a seguinte ordem de votação: Roraima, Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, Amapá, Pará, Paraná, Mato Grosso do Sul, Amazonas,
Rondônia, Goiás, Distrito Federal, Acre, Tocantins, Mato Grosso, São
Paulo, Maranhão, Ceará, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Piauí, Rio
Grande do Norte, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Bahia, Sergipe e
Alagoas.
Essa questão foi
julgada em duas ações. Em uma delas – que considerou constitucional a
decisão de Cunha de alternar os votos por Estados ─ o placar ficou em 6 a
4.
Em outra, porém, houve
empate em 5 a 5, com metade dos ministros defendendo que a ordem de
votação dos Estados deveria seguir a latitude em que estão localizadas
suas capitais, alternando Estados mais ao Sul e mais ao Norte do país.
Votaram nesse sentido Edson Fachin, Marco Aurélio de Mello, Luís Roberto
Barroso, Rosa Weber e Ricardo Lewandowski.
Depois de alguma discussão, porém, a maioria da corte entendeu que, em caso de empate, deveria prevalecer a decisão de Cunha.
Vale
registrar que, inicialmente, Cunha havia proposto outra ordem,
considerada ainda mais desfavorável pelos governistas, que previa que a
votação seria iniciada pelos estados do Sul do país e iria "subindo" até
o Norte e Nordeste.
O presidente da Câmara decidiu mudar sua decisão ante a possibilidade de ter sua primeira escolha rejeitada pelo STF.
Divergência e troca de farpas
A sessão do STF – que teve
início às 18h de quinta-feira e só terminou às 1h10 da madrugada desta
sexta – foi marcada por momentos de muita divergência e troca de farpas
entre alguns ministros. Destaque para os embates entre Marco Aurélio
Mello, ministro mais crítico ao processo de impeachment, e Gilmar Medes,
autor dos mais duros ataques ao governo petista dentro da Corte.
"Se
há falta de votos, não há intervenção do Judiciário que salve (a
presidente)", chegou a afirmar Mendes, em referência a uma possível
derrota do governo no Congresso.
Em
seu pedido para anular a decisão da comissão especial de recomendar
processo contra Dilma, o governo havia argumentado que o órgão não
respeitou o amplo direito à defesa, já que incluiu em seus debates
acusações que não estavam na denúncia aceita originalmente por Cunha,
como por exemplo questões relacionadas ao esquema de corrupção da
Petrobras.
As acusações
acolhidas pelo presidente da Câmara no pedido de impeachment se limitam a
supostas irregularidades fiscais cometidas pela presidente em 2015.
No
entanto, oito ministros entenderam que o trâmite do impeachment na
Câmara é apenas uma etapa preliminar que analisa se Dilma deve ou não
ser processada. Dessa forma, consideraram que a presidente ainda deve
ter amplo direito à defesa garantido no caso de um processo vir a ser de
fato aberto no Senado, após eventual autorização dos deputados.
Decidiram
nesse sentido os ministros Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Teori
Zavascki, Rosa Weber, Luiz Fux, Carmén Lúcia, Gilmar Mendes e Celso de
Mello.
Apenas os ministros
Marco Aurélio Mello e Ricardo Lewandowski, atual presidente do Supremo,
votaram em favor do governo. Dias Toffoli está fora do país e por isso
não participou.
"Que houve cerceamento de defesa claro que houve", defendeu Lewandowski.
Decisão
Com
a decisão do STF, está mantido o trâmite previsto por Cunha para a
análise do impeachment na Câmara. Nesta sexta, terão inícios os debates
em plenário.
Pela manhã, os
juristas autores da denúncia contra Dilma (Hélio Pereira Bicudo, Miguel
Reale Júnior e Janaina Conceição Paschoal) e a defesa da presidente
(representada pelo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo) farão
suas falas por 25 minutos. Ao longo do dia, cada um dos partidos com
representação na casa terá direito a falar por uma hora.
No
sábado, haverá mais debates entre os deputados. Finalmente, no domingo,
deve ocorrer a votação, a partir das 14h, para definir se a Câmara
autoriza que o Senado faça o julgamento de Dilma.
Para que isso seja aprovado, é preciso apoio de 342 deputados (dois terços do total de 513).
Caso
isso ocorra e a maioria dos senadores referende tal decisão, Dilma
ficará afastada do cargo por 180 dias enquanto é julgada. Nesse período,
seu vice, Michel Temer, assume a Presidência da República.
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