Estadão - Novos diálogos da bombástica delação premiada do ex-presidente da
Transpetro Sérgio Machado trazem à tona a preocupação e os ânimos
exaltados dos políticos diante dos avanços da Lava Jato, maior operação
de combate à corrupção já feita no Brasil. Em uma das conversas com o
presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB), os dois revelam suas
impressões sobre o procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
responsável por conduzir as investigações contra os políticos com foro
privilegiado.
“Machado – Agora esse Janot, Renan, é o maior mau-caráter da face da terra.
Renan – Mau caráter! Mau-caráter! E faz tudo que essa força-tarefa (Lava Jato) quer
Machado
- É, ele não manda. E ele é mau caráter. E ele quer sair como herói. E
tem que se encontrar uma fórmula de dar um chega pra lá nessa negociação
ampla pra poder segurar esse pessoal (Lava Jato). Eles estão se achando
o dono do mundo.
Renan- Dono do mundo”
O trecho foi
revelado nesta quinta-feira, 26, pelo Jornal Hoje, da TV Globo. Renan
Calheiros é alvo de ao menos 12 inquéritos no Supremo devido às
investigações da Lava Jato e Machado também é alvo de investigações na
Corte. Temendo que seu caso fosse enviado para a primeira instância, ao
juiz Sérgio Moro, em Curitiba, o ex-presidente da Transpetro acabou
aceitando fazer um acordo de delação premiada e entregar os áudios e
contar o que sabe à Procuradoria-Geral da República.
Uma de suas
conversas gravadas com políticos já levou à queda de Romero Jucá (PMDB)
do Ministério do Planejamento. No diálogo revelado na segunda-feira, 23,
o senador aparece discutindo propostas para “estancar” a Lava Jato com a
saída de Dilma e a chegada de Temer à Presidência. Machado também
gravou conversas com o ex-presidente José Sarney (PMDB).
Machado
foi filiado ao PSDB por dez anos, período em que chegou a se eleger
senador e virar líder da sigla no Senado. Posteriormente se filiou ao
PMDB e, há pelo menos 20 anos, mantém proximidade com a cúpula do
partido que chegou à Presidência da República após o afastamento
temporário de Dilma Rousseff com a abertura do processo de impeachment
no Senado.
A delação do ex-presidente da Transpetro foi homologada
nesta semana pelo ministro relator da Lava Jato no Supremo Tribunal
Federal Teori Zavascki. Com isso, a partir de agora Janot pode decidir
quais serão os próximos passos das investigações e solicitar a abertura
de novos inquéritos.
Não é a primeira vez que políticos
investigados na operação criticam o procurador-geral. O ex-presidente e
também senador Fernando Collor (PTB-AL) já lançou vários xingamentos a
Janot, desde “fascista da pior extração” e até de “filho da puta”, na
tribuna do Senado. “Trata-se de um fascista da pior extração, e cuja
linhagem pode ser perfeitamente traduzida nas palavras de Plutarco:
‘Nada revela mais o caráter de um homem do que seu modo de se comportar
do que quando detém um poder e uma autoridade sobre os outros. Essas
duas prerrogativas despertam toda a paixão e revelam todo o vício'”,
afirmou o parlamentar no ano passado, dois dias antes de Janot ser
sabatinado no Senado para ser reconduzido ao cargo.
Collor foi
denunciado pelo procurador ao Supremo, teve sua mansão revistada pela
Polícia Federal e até seus veículos de luxo chegaram a ser apreendidos a
pedido de Janot, que acusa o parlamentar de acumular o patrimônio com
dinheiro de propina.
COM A PALAVRA, O SENADOR RENAN CALHEIROS:
“O
Senador Renan Calheiros reitera que não tomou nenhuma iniciativa ou fez
gestões para dificultar ou obstruir as investigações da operação Lava
Jato, até porque elas são intocáveis e, por essa razão, não adianta o
desespero de nenhum delator”, escreveu a assessoria do senador.
Na
nota, ele ainda confirma que acelerou o processo de cassação do
ex-senador Delcídio Amaral, mas alega que o desfecho do processo foi
público.
Assim como na primeira nota, divulgada nessa
quarta-feira, 25, ele também reafirma que sua opinião sobre a
modificação da lei das delações também é de conhecimento público.
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