BRASÍLIA - Em nova ofensiva contra integrantes do Judiciário e do
Ministério Público, o Senado aprovou na noite desta terça-feira projeto
que coíbe supersalários no funcionalismo público. No pacote aprovado
está a proposta que define quais “benefícios” deverão ser considerados
nos cálculos do teto constitucional, de R$ 33,7 mil, cortando alguns dos
chamados penduricalhos que inflam vencimentos nos Três Poderes.
As
propostas aprovadas atingem, entre outros, magistrados, militares,
chefes dos Poderes e servidores de estatais. Também enquadra como ato de
improbidade a autorização de pagamento de verbas remuneratórias acima
do limite. Em um dos textos aprovados, ainda consta divulgação de todas
as remunerações pagas aos agentes públicos, incluindo aposentados e
pensionistas.
Os projetos seguem agora para votação na Câmara, que deve
analisá-los somente a partir de 2017.
“No momento em que o Senado
regulamenta o crescimento do gasto público, outra medida não poderia
tomar a não ser a regulamentação do extrateto constitucional. Hoje foi
um dia de grandes vitórias”, afirmou Renan após conclamar a aprovação
dos projetos.
Críticas. A criação da comissão
que deu origem à proposta ocorreu no momento de tensão entre o Congresso
e o Poder Judiciário, há cerca de um mês. A medida foi duramente
criticada por entidades de magistrados, como a Associação de Juízes
Federais do Brasil (Ajufe) e a Associação dos Magistrados Brasileiros
(AMB). Na época, o presidente da AMB acusou os senadores de tentarem
“reprimir” o sistema da Justiça que realiza investigações. Para ele, o
Parlamento está tomando iniciativas em relação ao Poder Judiciário que
visam dificultar a função jurisdicional e a função do Ministério
Público. “Querem criar mecanismos para tornar esses agentes públicos
reféns da classe política, isso não acontece em lugar nenhum. Uma
democracia para ter estabilidade, não pode ter uma magistratura refém do
poder político ou do poder econômico.”
O presidente da Ajufe,
Roberto Veloso, também considerou a proposta sobre supersalários como
“um ponto de retaliação”. “É de se estranhar que somente agora, quando o
Judiciário está empenhado no enfrentamento da corrupção, venham
iniciativas do tipo controle de salários, abuso de poder e crimes de
responsabilidade de juízes de primeiro grau, levando à conclusão que se
trata de ameaças de intimidação da magistratura”, disse, em nota, o
presidente da entidade, Roberto Veloso, quando a comissão foi criada.
O
dirigente esteve presente no plenário durante a leitura do relatório,
realizada pela senadora Kátia Abreu (PMDB-TO). A presença dele foi alvo
de protesto por parte do Renan. “Eu precisava apenas recomendar ao
presidente da Ajufe que ele seja discreto na pressão aos senadores. Nós
estamos votando uma matéria muito importante. Estou vendo que ele está
bastante incomodado lá no final do plenário, mas seja discreto na
pressão aos Senadores”, disparou Renan.
Defesa.
Aliado do peemedebista, o vice-líder do governo, senador Fernando
Bezerra (PSB-PE), defendeu a votação da proposta e negou se tratar de
retaliação ao Judiciário e ao Ministério Público. “O que estamos fazendo
aqui não se trata de ato menor, de vingança, de coisas menores que os
Poderes da República não devem discutir, estamos tratando de justiça”,
afirmou Bezerra que também é alvo da Operação Lava Jato.
“O que
traz ainda essa questão não é só a condição de o Congresso enquadrar
todos os Poderes, inclusive nós, na lei e na Constituição. Nós
precisamos cumprir essa lei. E nós estamos assistindo, por muitas vezes,
à indignação por parte da população, que não se conforma com os
supersalários”, afirmou Kátia Abreu, relatora da proposta.
De
acordo com o principal projeto, fazem parte dos cálculos para o teto
verbas de representação; gratificações: abonos; prêmios; pensões
especiais ou militares; horas extras; adicional de plantão e noturno;
remuneração ou gratificações decorrente do exercício de mandato, entre
outros. Também entra no teto auxílios pagos aos servidores com moradia,
assistência pré-escolar, médica ou odontológica. Nas discussões
realizadas entre os senadores houve também o entendimento de se abater,
caso se extrapole o teto, os valores pagos pela participação dos
servidores em conselhos de administração de empresas públicas (jetons).
Ficam
excluídos do teto, por outro lado, auxílios para alimentação e
transporte, indenização de férias não gozadas, abono por permanência em
serviço, entre outros.
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