GENEBRA - A Suíça compartilhou com os procuradores da Operação Lava
Jato dados do servidor da Odebrecht no país referentes a pagamentos de
propinas, com datas, beneficiários e rota disponível do dinheiro. No
total, os suíços confiscaram 2 milhões de documentos, e-mails, extratos
bancários e contratos sobre movimentações financeiras da construtora em
todo o mundo.
Os dados, segundo os procuradores, devem confirmar
conteúdos de delações premiadas de ex-executivos da empresa contra
versão contestatória de quase a totalidade dos políticos que são alvo de
inquéritos no Supremo Tribunal Federal. O senador Romero Juca (PMDB-RR)
chegou a chamar os depoimentos de "ficções premiadas".
Quando a Lava Jato começou em 2014, parte dos rastros de pagamentos
no Brasil pela Odebrecht foi destruída. Já o servidor que armazena as
movimentações de dinheiro da empresa direcionado a propinas foi mantido
em Genebra. Sua existência foi revelada pelos próximos ex-funcionários
da construtora.
Em janeiro deste ano, o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, estava com uma reunião marcada com o
procurador suíço Michael Lauber, em Berna. Antes do encontro, os suíços
disseram a Janot que teriam uma “boa notícia” em relação aos dados dos
servidores. Mas a reunião jamais ocorreu, já que horas antes o
brasileiro teve de retornar ao País por causa da morte do ministro do
Supremo, Teori Zavascki.
Até agora, foram mais de mil relações
bancárias identificadas com a Odebrecht em contas na Suíça, com o
bloqueio inédito de mais de US$ 1 bilhão. Os dados também mostraram que,
apenas pelas movimentações da Odebrecht, cerca de US$ 635 milhões
passaram pelas contas secretas.
Destruição.
Em documento obtido pelo Estado no
Tribunal Federal Suíça, de 21 de dezembro de 2016, os suíços informam
que houve tentativa da Odebrecht em destruir as informações do servidor
da empresa mantido no país. “Grande parte dos dados foi deletado antes
por ordens da direção ou foi encriptada. Mas elas puderam ser
restauradas e decriptadas”, indicou o documento.
“Além disso,
milhares de listas foram confiscadas e partes de pagamentos registrados
no sistema de contabilidade paralelo foram listadas, com referência às
datas dos pagamentos, o valor e o número de codinomes dos recipientes,
além da pessoa responsável pelo pagamento”, dizem os suíços.
'Armadilha'.
O
acesso ao servidor começou a se tornar uma realidade quando Fernando
Miggliaccio, ex-executivo da Odebrecht e responsável por fazer
pagamentos de propinas, foi preso em Genebra. Em seu depoimento diante
do juiz federal Sérgio Moro, ele contou que foi vítima de uma
“armadilha” por parte do Ministério Público da Suíça. Miggliaccio foi
preso em Genebra em fevereiro de 2016 e sua detenção foi considerada
como fundamental para os investigadores.
Os dados que estavam com ele eram considerados essenciais para entender o pagamento de supostas propinas em diversos países.
No
início da Lava Jato, Miggliaccio foi transferido para fora do Brasil e
passou a viver entre a República Dominicana e os Estados Unidos. Em
fevereiro do ano passado, Miggliaccio revelou que recebeu uma ligação de
um dos bancos onde tinha conta em Genebra, solicitando sua presença
física para fechar a conta. “Eu tinha uma conta. É um direito que todos
temos”, disse. “Mas o procurador da Suíça armou uma armadilha para mim”,
revelou.
“Ele (o procurador) sabia que eu ia lá fechar a
conta. Eles na Suíça já tinham conhecimento das denúncias da Odebrecht e
sabia que eu era quem contralava tudo isso. Por isso, armou isso”,
disse. “Eu não queria ir para lá (Genebra). Foram eles que ligaram para que eu fosse para lá. Depois, ele (o procurador) me disse que montou a armadilha”, disse.
Miggliaccio
passou a responder a um processo por lavagem de dinheiro na Suíça e
prestou, nos três meses preso, um total de 14 depoimentos. Em meados do
ano passado, depois de aceitar fechar um acordo de delação premiada no
Brasil, voltou ao País.
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