“Eu tenho mais de trinta cadáveres dentro do meu telefone”, disse Rafael Silvestri, no dia 8 de setembro do ano passado, em conversa telefônica com um comparsa do Primeiro Comando da Capital
(PCC), a maior e mais perigosa organização criminosa em atividade no
Brasil. Ele se jactava das imagens de inimigos mortos que havia recebido
em seu celular de comparsas baseados em vários estados brasileiros.
Silvestri é a principal “autoridade” do PCC no Nordeste e, nos últimos
seis meses, teve seu sigilo telefônico quebrado pela Polícia Civil de
Presidente Prudente (SP) juntamente com o de outros 200 membros da
facção. O material, colhido no âmbito de um inquérito sigiloso ao qual
VEJA teve acesso, ajudou os policiais a deflagrar, no dia 14, a Operação
Echelon, que desvendou o modus operandi usado pelos bandidos do PCC
para expandir seu domínio sobre o tráfico de drogas nos estados.
As investigações levaram a constatações preocupantes. Uma delas: os
territórios onde a facção trava disputa com outros grupos criminosos
pela hegemonia no tráfico são justamente os que sofreram uma explosão de
homicídios em dez anos. Nesse período, o aumento do número de
assassinatos por 100 000 habitantes, segundo o Atlas da Violência de
2018, é uma matemática de horrores: 256% no Rio Grande do Norte, 121% em
Sergipe, 93% no Acre, 86% no Ceará, 74% no Pará e 72% no Amazonas. Tais
áreas são as que mais aparecem nas conversas gravadas pela polícia.
Identificadas como zonas conflagradas, são rotas estratégicas para a
entrada da cocaína no Brasil e seu escoamento para a Europa. Em São
Paulo, onde o PCC surgiu e é hegemônico no tráfico, o vetor é inverso:
os homicídios caíram 46% na última década. Por isso, dissemina-se a
certeza de que o controle da violência em São Paulo não está nas mãos do
governo e suas políticas de segurança. Está nas mãos do PCC.
Veja
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