Se você for às ruas do Rio de Janeiro e perguntar por José Datrino, certamente, a imensa maioria dos cariocas não ligará o nome à pessoa. Mas experimente procurar pela história do Profeta Gentileza e, em troca, receberá dezenas de sorrisos e lembranças.
Nascido em uma família de 11 irmãos no interior de
Cafelândia, São Paulo, desde menino Datrino se destacava por seu comportamento
atípico para a idade (13 anos):
fazia questão de espalhar na escola e aos
amigos que “tinha uma missão na Terra”.
Nascido em uma família de 11 irmãos no interior de
Cafelândia, São Paulo, desde menino Datrino se destacava por seu comportamento
atípico para a idade (13 anos): fazia questão de espalhar na escola e aos
amigos que “tinha uma missão na Terra”.
Ele só viraria Profeta Gentileza anos depois,
na década de 1960, depois do incêndio do Gran Circus Norte-Americano de Niterói
(dezembro de 1961), no qual morreram mais de 500 pessoas – a maioria, crianças.
No Natal daquele ano, morando no Rio, Datrino disse ter ouvido “vozes astrais”
e dirigiu-se ao terreno do circo para plantar um jardim sobre as cinzas. Ali
morou por quatro anos e trabalhou como “consolador voluntário”, confortando com
palavras de bondade às famílias das vítimas da tragédia. Recebeu dois apelidos:
“José Agradecido” e “Profeta Gentileza”. O último prevaleceu.
Na década seguinte, Gentileza passou a percorrer as
ruas da capital fluminense para levar sua palavra de amor, bondade e respeito
ao próximo. Era assim em ônibus, praças, pontes, praias, calçadões e até nas
apinhadas barcas da travessia Rio-Niterói. Nem todos entediam a mensagem do
Profeta. Os mais exaltados o chamavam de “maluco”. Para estes, a resposta
estava sempre na ponta da língua:
“Sou maluco para te amar e louco para te salvar”.
Após uma rápida passagem por Conselheiro Lafaiete,
Minas Gerais, Gentileza voltou ao Rio, nos anos de 1980, para dar início ao seu
legado: em 56 pilastras do viaduto da Av. Brasil, entre o Cemitério do Caju e o
Terminal Rodoviário do Rio de Janeiro, Gentileza preencheu muros com seus
escritos sobre o mal-estar da civilização. Para uns textos proféticos, para
outros, poesia, as mensagens em tons de azul, verde e amarelo nunca passaram
despercebidas. Foram cantadas por músicos como Gonzaguinha e Marisa Monte,
citadas em filmes, novelas e trabalhos acadêmicos.
Nos anos de 1990, um susto: os dizeres de Gentileza
foram cobertos erroneamente com tinta cinza pela Prefeitura do Rio, que se
desculpou. A recuperação só veio em 1999.
Profeta Gentileza
na Sapucaí O Profeta
morreu em Mirandópolis, São Paulo, cidade de seus familiares, aos 79 anos, em
1996. Mas seu legado só se expandiu. Em 2000, o professor do Departamento de
Arte da Universidade Federal Fluminense (UFF) e coordenador do Movimento Rio
com Gentileza, Leonardo Guelman, lançou o livro Brasil: Tempo de
Gentileza (Editora
da Universidade Federal Fluminense).
Em 2009, publicou Univvverrsso
Gentileza (Ed.
Mundo das Ideias). Em Mirandópolis, foi criada a primeira ONG da cidade:
Gentileza Gera Gentileza, fundada por parentes e amigos do Profeta, e cuja
missão é difundir educação e cultura em toda a região.
Em 2001, o Profeta foi homenageado na Sapucaí pela
Escola de Samba Acadêmicos do Grande Rio, com direito a desfile de autoria de
Joaozinho Trinta. No enredo, a mensagem principal do Profeta: “Gentileza gera
gentileza, amor”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário