Weintraub quer contratar professor sem concurso e arrecadar R$ 15 bi com fundo
O
ministro da Educação, Abraham Weintraub, quer separar o que considera o
joio do trigo nas universidades brasileiras. Dois dias depois do
anúncio de um novo programa para o ensino superior, Weintraub recebeu o UOL em
seu gabinete para explicar pontos do projeto. Em tom menos agressivo do
que o adotado no início de seu mandato, há três meses, quando generalizou a "balbúrdia" nas universidades,
Weintraub dissemina a ideia de que o novo projeto trará liberdades e
autonomia para as instituições --e diz estar aberto ao diálogo com a
sociedade.
"A gente não está acabando com a universidade pública e
muito menos privatizando. Estamos, sim, dando mais liberdade", afirma
Weintraub.
Durante a entrevista, o ministro explorou três pontos do novo projeto. Batizado de Future-se, o primeiro programa do governo de Jair Bolsonaro (PSL) para a educação superior prevê estimular a captação de recursos privados pelas instituições de ensino,
inserir a figura jurídica das OSs (organizações sociais) para gestão
das universidades e formar um fundo soberano para administrar o
patrimônio imobiliário ligado às reitorias.
Sobre a função das entidades privadas nas instituições federais, o ministro afirma ao UOL
que, se aprovado pelo Congresso Federal, o Future-se vai liberar a
contratação de professores universitários sem concurso, via CLT, por
meio de OSs.
Hoje, professores substitutos podem ser contratados
por um processo de seleção simplificada, que é diferente do concurso.
Administrado pela própria universidade, o processo exige qualificação,
entrevista e prova de desempenho. A contratação pode ser feita por, no
máximo, dois anos.
Em relação ao financiamento privado, Weintraub
estima que a criação de um fundo soberano deve injetar ao menos R$ 15
bilhões ao ano no orçamento das universidades -o que representaria 30% a
mais de recursos nos caixas.
A divisão desse possível rendimento,
porém, não seria feita da mesma forma para todas as instituições.
Weintraub diz que estabelecerá critérios de desempenho diferentes para
que cada uma das 63 universidades federais para acesso ao dinheiro
extra. Perguntado, ele citou alguns dos critérios, mas não especificou
os pesos que seriam dados a cada um deles e nem como seria feito esse
monitoramento.
O ministro recebeu a reportagem na sexta-feira, um
dia antes de tirar uma semana de férias, em uma sala de reuniões adjunta
ao seu gabinete, na sede do MEC. O cenário é o mesmo utilizado por
Weintraub para gravar vídeos postados em seu Twitter, como o do
guarda-chuva contra o que chamou de "chuva de fake news".
Na
conversa, o ministro não poupou críticas ao modelo das universidades
federais, que disse terem uma "taxa de insucesso" grande na formação de
alunos. "Os donos das universidades são os brasileiros, que pagam
impostos caros para manter as universidades. As universidades têm que
atender não ao aluno, ou ao professor, mas à sociedade que está em
volta", diz o ministro.
O anúncio do Future-se foi feito em meio a um contingenciamento de 30% no orçamento discricionário
(que envolve gastos como luz e água, mas não salários) das
universidades. Segundo o MEC, o bloqueio pode ser revertido caso a
reforma da Previdência seja aprovada.
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