Casos de corrupção
A imagem positiva do governo Lula, cultivada a partir da política econômica de sucesso e de uma política externa que colocou o Brasil em posição de prestígio internacional, foi fortemente abalada por casos de corrupção envolvendo pessoas diretamente ligadas à base política do governo. Diferentes denúncias aconteceram ao longo dos anos do mandato de Lula e, de todos os escândalos, o que mais repercutiu ficou conhecido como Mensalão e estourou em 2005.
Os escândalos de corrupção durante o governo de Lula renderam fortes críticas ao PT, seja de grupos à direita e entendidos como opositores, seja de grupos ligados à esquerda. As críticas ao governo Lula e ao próprio PT relembravam o discurso petista durante a década de 1990, no qual o partido fazia a defesa intensa da ética na política. No entanto, a grande quantidade de denúncias e a comprovação de algumas delas mostraram que essa defesa da ética na política não aconteceu quando assumiram o poder do Brasil.
Mensalão
O Mensalão consistiu basicamente no escândalo em que membros da cúpula do governo realizavam a compra de parlamentares a partir de Caixa 2 para que apoiassem no Legislativo as pautas de interesse do governo.
O esquema foi denunciado por Roberto Jefferson e desgastou severamente a imagem de Lula, que viu sua aprovação cair consideravelmente no período às vésperas das eleições presidenciais. As investigações destrincharam um complexo esquema de corrupção que envolvia diversas pessoas, e o resultado do escândalo fez com que parte considerável da cúpula de governo de Lula fosse incriminada. O grande alvo da acusação na época foi o ministro da Casa Civil, José Dirceu.
A acusação sobre Dirceu resultou na cassação de seu mandato ainda em 2005 e, em 2006, foi denunciado com cerca de quarenta pessoas pelo envolvimento no Mensalão. O julgamento de Dirceu estendeu-se durante anos e, em 2016, foi condenado a 23 anos de prisão por corrupção passiva, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
A respeito da estratégia de defesa do governo quando estourou esse escândalo e do seu impacto sobre a popularidade de Lula, vale destacar a seguinte fala do historiador Boris Fausto:
A estratégia de defesa do governo deu-se em duas frentes. Na frente política, consistiu em negar a existência de um esquema de compra de votos no Congresso, concentrar culpas e responsabilidades no tesoureiro do partido e caracterizar as denúncias como orquestração golpista de uma elite inconformada com o sucesso de um trabalhador na presidência da República. Lula, segundo o discurso oficial, nada sabia a respeito do suposto esquema.
[…] O governo venceu a batalha política. A oposição decidiu não lutar pelo afastamento do presidente, temerosa de apostar na polarização política e perder, e receosa dos efeitos de longo prazo, para a convivência democrática, de uma eventual divisão ao meio da sociedade brasileira. Imaginou que seria capaz de desgastar Lula até as eleições de outubro de 2006.
É verdade que o presidente sofreu queda significativa de sua popularidade ao longo de 2005. Ela, no entanto, não se alastrou para além dos setores de renda e instrução mais elevadas e mostrou-se transitória. Ao iniciar-se a corrida eleitoral no final do primeiro semestre de 2006, o presidente já havia recuperado a popularidade perdida e despontava como franco favorito à sua própria sucessão |7|.
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