O grupo autodenominado "Estado
Islâmico", que assumiu a autoria dos atentados que deixaram pelo menos
129 pessoas mortas em Paris, despontou na cena internacional em 2014,
quando conquistou grande parte do território da Síria e do Iraque.
Nas
últimas semanas, porém, o grupo aumentou seu escopo de ações e assumiu a
autoria de grandes ataques internacionais:
a derrubada de um avião no
Egito, bombardeios em Beirute e, agora, atentados em Paris.
Os
ataques ocorrem no momento em que o grupo está sendo atacado por uma
coalizão liderada pelos Estados Unidos, com efeitos sobre os territórios
controlados pelo grupo no Oriente Médio.
Veja abaixo cinco questões sobre a atual força do grupo extremista.
Qual o tamanho do território controlado pelo EI?
Em
setembro de 2014, o então diretor do Centro Nacional de
Contraterrorismo dos EUA, Matthew Olsen, disse que o EI controlava
grande parte da bacia dos rios Tigre e Eufrates - uma área do tamanho do
Reino Unido, com cerca de 210 mil quilômetros quadrados.
Sete
meses depois, militares americanos disseram que o "Estado Islâmico"
perdeu cerca de um quarto de seu território no Iraque - equivalente a
entre 13 mil e 15 mil quilômetros quadrados - mas que sua área de
influência na Síria continuava a mesma, com perdas em outras áreas
compensadas com ganhos em outras.
Mas
esses dados não necessariamente refletem a situação em terra. Na
verdade, militantes do EI exercem controle absoluto apenas sobre uma
pequena parte deste território, que inclui cidades e vilarejos, ruas
principais, campos de petróleo e instalações militares.
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Eles têm
liberdade de movimento nas vastas áreas inabitadas fora do que o
Instituto para Estudos da Guerra chama de "zonas de controle", mas ele
teriam dificuldades se fossem forçados a defendê-las de uma ofensiva.
Também
não há informações precisas sobre o número de pessoas que vivem
atualmente em áreas sob controle total ou parcial do EI na Síria e no
Iraque. Em março de 2015, o presidente do Comitê Internacional da Cruz
Vermelha estimou-as em cerca de 10 milhões.
Nas
áreas em que o EI implementou sua rígida interpretação da sharia (lei
islâmica), mulheres são forçadas a usar véus completos, decapitações
públicas são comuns e não muçulmanos são forçados a escolher entre pagar
um imposto especial, se converter ou morrer.
E os alvos fora da Síria?
Nas
últimas semanas, o EI começou a reivindicar autoria de ataques fora de
seu território. Um grupo egípcio ligado ao EI, a Província do Sinai,
disse que derrubou um avião de passageiros na península do Sinai,
matando as 228 pessoas a bordo.
Eles
não deram detalhes sobre o ataque, mas Reino Unido e Estados Unidos
disseram que provavelmente a queda da aeronave foi causada por uma
bomba.
O "Estado Islâmico"
também diz ser autor de explosões simultâneas na capital do Líbano,
Beirute, que deixaram 41 pessoas mortas. Militantes do movimento libanês
Hezbollah estão lutando na vizinha Síria ao lado do presidente Bashar
al-Assad, inimigo do EI.
E
agora, pelo menos 129 pessoas morreram em uma onda de ataques em Paris. O
"Estado Islâmico" disse estar por trás da onda de violência, e o
presidente da França, François Hollande, descreveu os atentados como um
"ato de guerra".
Quantos combatentes o 'Estado Islâmico' tem?
Em
fevereiro de 2015, o diretor de Inteligência Nacional dos EUA, James
Clapper, disse que o EI poderia reunir "algo entre 20 mil e 32 mil
militantes" no Iraque e na Síria.
Mas
ele ressaltou que houve uma "desistência substancial" em suas frentes
desde o início dos ataques da coalizão liderada pelos EUA em agosto de
2014. Em junho de 2015, o vice-secretário de Estado dos EUA, Antony
Blinken, disse que mais de 10 mil combatentes do EI haviam sido mortos.
Para diminuir os efeitos das perdas humanas, o EI teria recorrido à conscrição obrigatória em algumas áreas.
Mas
um grande número de combatentes não é nem iraquiano nem sírio. Em
outubro de 2014, o diretor do Centro Nacional de Contraterrorismo,
Nicholas Rasmussen, disse ao Congresso americano que o grupo havia
atraído mais de 28 mil combatentes estrangeiros. Pelo menos 5 mil seriam
ocidentais.
De onde vem o dinheiro do grupo?
Acredita-se
que o "Estado Islâmico" seja o grupo extremista mais rico do mundo.
Inicialmente, eles dependiam da riqueza de doadores privados e
instituições de caridade islâmicas no Oriente Médio que desejavam
retirar Assad do poder. Apesar de este dinheiro ainda ser usado para
financiar a ida de combatentes estrangeiros para a Síria, o grupo
consegue se financiar sozinho.
O Tesouro
americano estimou, em 2014, que o EI poderia ganhar US$ 100 milhões por
semana com a venda de petróleo cru e produtos refinados para
intermediários que os contrabandeavam para a Turquia e o Irã, ou os
vendiam para o governo da Síria.
Mas acredita-se que ataques aéreos contra a infraestrutura petroleira impactaram essa renda.
O
pagamento de resgate de sequestros também gerou cerca de US$ 20 milhões
para o EI no ano passado. Mas o grupo também arrecada milhões de
dólares por mês extorquindo pessoas que vivem em áreas sob seu domínio,
além de realizar roubos e saques.
Minorias
religiosas são obrigadas a pagar um imposto especial. O EI também lucra
com roubos a bancos, venda de antiquidades e ao roubar e controlar a
agricultura e criação de animais.
Mulheres e garotas sequestradas também são muitas vezes vendidas como escravas sexuais.
Qual o objetivo do EI?
Em
junho de 2014, o EI declarou oficialmente o estabelecimento de um
"califado" - um Estado governado segundo a sharia, pelo representante de
Deus na Terra, o califa.
O
EI pediu que muçulmanos pelo mundo jurassem fidelidade a seu líder -
Ibrahim Awad Ibrahim al-Badri al-Samarrai, mais conhecido como Abu Bakr
al-Baghdadi - e migrasse para o território sob seu controle.
O
"Estado Islâmico" também disse que outros grupos jihadistas pelo mundo
deveriam aceitar sua suprema autoridade. Muitos já o fizeram - entre
eles, vários ramos da rival al-Qaeda.
O
grupo afirmou que viu com bons olhos a possibilidade de enfrentar
diretamente a coalizão liderada pelos EUA, vendo isso como um anúncio do
confronto do fim os tempos entre muçulmanos e inimigos descrita em
profecias apocalípticas islâmicas.
O
grupo afirma que seu objetivo é erradicar obstáculos para restaurar a
ordem de Deus na Terra e defender a comunidade muçulmana contra infiéis.
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