RIO - Escolhido
pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para se juntar à equipe de
advogados responsável por sua defesa, o criminalista Nilo Batista diz
estar certo de que não haverá denúncia criminal contra principal líder
do PT. Alertou, porém, para o “sentido político” das acusações que têm
vindo a público com o avanço das Operações Lava Jato e Zelotes, da
Polícia Federal.
“No fim, quando não pesar nenhuma acusação sobre o
Lula, haverá um prejuízo político dramático”, afirmou Batista.
Ele foi
governador do Rio de Janeiro entre abril e dezembro de 1994, quando o
titular Leonel Brizola (PDT) se afastou para disputar a Presidência da
República.
Nilo se associou aos advogados Roberto Teixeira e
Cristiano Zanin em meados de dezembro para a defesa do ex-presidente e,
desde então, disse ter se reunido “três ou quatro vezes” com Lula. Em
delação premiada na Operação Lava Jato, o ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró disse ter sido indicado por Lula para a diretoria financeira da BR Distribuidora,
subsidiária da petroleira, em agradecimento pela contratação da Schahin
Engenharia para operar no navio-sonda Vitória 10.000. A suspeita dos
investigadores é que o contrato com a empreiteira foi uma compensação
pelo fato de o Banco Schahin ter feito empréstimo de R$ 12 milhões ao
pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula. O dinheiro, segundo
Bumlai, serviu para saldar dívidas do PT.
Zelotes.
Outro motivo de preocupação para Lula é a Operação Zelotes, que
investiga esquema de compra de medidas provisórias para favorecer
montadoras de veículos. Um dos filhos do petista, Luís Cláudio Lula da
Silva, é dono da empresa LFT Marketing Esportivo, que recebeu R$ 2,4 milhões do escritório Marcondes e Mautoni Empreendimentos.
O
empresário Mauro Marcondes é acusado de negociar a edição de uma medida
provisória que prorrogou incentivos para montadoras. Luís Cláudio diz
que o pagamento foi feito por serviços prestados na área de marketing
esportivo. Em outubro, a LFT foi alvo de operação de busca e apreensão
da Polícia Federal.
Nilo diz que Luís Cláudio tem atuação
conhecida na área de marketing esportivo e reclama do que chama de
“leviandade acusatória” contra Lula e sua família. O criminalista
afirmou ter se juntado a Teixeira e Zanin para “ajudá-los a enfrentar
esse tsunami, esse esforço artificial para tentar criminalizar o
presidente Lula”.
“Acho que é uma causa muito importante para além do pouco que há nela de jurídico-penal. O principal é o sentido político de (tentativa de) neutralizar uma liderança política”, afirmou.
Segundo
Nilo, "não há perspectiva de ação criminal concreta, o que existem são
coisas imaginativas, tentativas fantasiosas e até ridículas de
relacionar fatos". Nilo diz que cabia aos partidos indicar postos
importantes como as diretorias da Petrobrás. “Quando se convida um
aliado a participar, ele tem justa expectativa de exercer poder e os
partidos decidem soberanamente. Querem transformar o Executivo em fiador
das indicações, e isso não existe”, declarou.
Para o advogado, as
informações de delações premiadas devem ser tratadas com "cuidado
redobrado", pois “vêm de pessoas que terão penas muitíssimo diminuídas
em troca de informações”. “O delator é recompensado. A tendência é falar
o que os ouvidos de quem está inquirindo querem ouvir”, afirmou.
O
criminalista reclamou do tratamento dado pela mídia às acusações feitas
pelos acusados e do vazamento de informações sigilosas. "Há uma colisão
séria entre a liberdade de comunicação, com a qual todos estamos de
acordo, e a presunção de inocência e o direito a julgamento justo",
declarou.
Nilo explicou por que decidiu não cobrar honorários de
Lula. "Levo em conta a natureza da causa e do cliente. Integro o mesmo
campo político do presidente Lula", afirma. Segundo ele, seu escritório
não cobra honorários de cerca de 50 causas em andamento.
Questionado
se a defesa de Lula pretende tomar alguma medida preventiva em relação
ao ex-presidente, o criminalista repetiu que não há nada de concreto
contra Lula. "Como em Pirandello, a defesa do presidente Lula é uma
defesa à espera de uma acusação", brinca, referindo-se à peça "Seis
personagens à procura de um autor", do italiano Luigi Pirandello.
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