Pelo jeito, militares são previsíveis até na escolha
do sobrenome. Se um general Mourão, o Olímpio, desencadeou o golpe
militar de 1964, vem agora outro general Mourão, o Antonio, falar em
“intervenção militar”, que é o novo eufemismo para golpe. Ser previsível
é característico da disciplina e da rotina militar. Para o bem e, como
nesse caso, para o mal.
Previsíveis que são, os militares não são de cometer desatinos. Se o
general Antonio fala em “intervenção”, se depois não é punido e se o
comandante do Exército, Eduardo Villa Boas, chega a admitir, na
entrevista que deu a Pedro Bial na TV Globo, a possibilidade de os
militares intervirem diante da ameaça de caos, fica evidente que a fala
do segundo Mourão não foi um deslize. Mas um recado.
Desde que se inviabilizaram as condições políticas de Dilma Rousseff,
o país tem bordejado os limites da legalidade para sair da crise em que
se enfiou. Para alguns, o impeachment foi um golpe parlamentar. Sem
entrar aqui no mérito, já que o processo respeitou os preceitos da
Constituição, foi fato também que houve dificuldade para definir sobre
Dilma o crime de responsabilidade. Tanto que, ao final, o Senado chegou à
esdrúxula saída de retirar o mandato dela mantendo seus direitos
políticos, um fatiamento da pena que somente uma leitura muito enviesada
do texto constitucional permitia.
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