Os petistas estão assanhados nas redes porque “o New York Times diz que Moro corrompeu o sistema judicial e é responsável direto pelo caos que o Brasil vive hoje”. É mentira. Não que o jornal não pudesse afirmar isso — mais do que nunca, a sua redação hoje faz jus ao apelido de “Pravda on the Hudson”. Mas não foi um jornalista ou editorialista do New York Times que escreveu a peça de propaganda. Trata-se de um artigo publicado na seção de Opinião do jornal, assinado por um franco-mexicano chamado Gaspard Estrada. Não foi escrito originalmente em inglês, mas em espanhol.
Gaspard Estrada macaqueia a mesma falta de argumentos que servirá para aquele pessoal do STF tentar anular a condenação de Lula. Falta de argumentos baseada na livre interpretação das mensagens roubadas — e não periciadas — do celular de Deltan Dallagnol. De acordo com a ficção emulada pelo franco-mexicano, houve conluio entre procuradores e o então juiz Sergio Moro, que teriam violado o sistema de Justiça brasileiro para despachar o ex-presidente para o xadrez. Lula teria sido condenado sob “acusações frágeis” por “atos indeterminados”. Pois é, nenhuma palavra sobre o fato de o corrupto e lavador de dinheiro ter tido a sentença confirmada em instâncias superiores.
O franco-mexicano também mente que metade do dinheiro recuperado pelo roubo foi para uma fundação criada pelos procuradores. Os procuradores realmente queriam criar uma fundação de combate à corrupção financiada pelos recursos recuperados, mas se viram obrigados a voltar atrás diante da repercussão negativa e da suspensão da fundação pelo STF, em 2019. Teria sido um erro da Lava Jato? Sim. Mas é mentira dizer que o dinheiro foi para a tal fundação e os seus “líderes”. Não foi. Gaspard Estrada ainda esquece — ou não lhe sopraram — que o próprio Dallagnol reconheceu que criar a fundação teria sido errado.
Quem lê o artigo de Gaspard Estrada sai acreditando que Lula, coitadinho, foi vítima do desvirtuamento de um sistema de combate à corrupção fortalecido durante os seus mandatos, veja só — desvirtuamento comandado por um malfeitor que queria ser ministro da Justiça. Obviamente, o franco-mexicano afirma que, como recompensa por ter violado a lei, Moro ganhou o cargo. Gaspard Estrada diz que, quando a Lava Jato foi formalmente extinta, quase nenhum brasileiro protestou nas ruas ou nas redes sociais — como se os cidadãos de bem tivessem aprovado o desfecho da operação providenciado por Augusto Aras e não estivesse em curso uma pandemia que impede grandes manifestações.
Para o autor do artigo, os procuradores e o ex-juiz contribuíram para eliminar Lula da corrida presidencial, pavimentando o caminho para a eleição de Jair Bolsonaro e a instauração do caos. É uma visão que seria classificada de mecanicista no tempo em que a esquerda lia. Nenhuma linha, outra vez, sobre a palhaçada irresponsável promovida pelo PT e o seu poste, Fernando Haddad, que transformaram a campanha de 2018 em um plebiscito sobre a inocência ou a culpa de Lula, levando boa parte dos eleitores a tampar o nariz e votar em Bolsonaro.
A peça de propaganda de Gaspard Estrada faz parte de uma estratégia de alcance internacional para demonizar a Lava Jato e os seus protagonistas, como se mentiras traduzidas para o inglês dessem mais credibilidade àquelas escritas em português. O franco-mexicano é diretor do Observatório Político da América Latina e Caribe da Sciences Po, em Paris. A Sciences Po é uma instituição da elite esquerdista. A escola esteve envolvida recentemente num escândalo de incesto que diz muito sobre o compadrio entre essa gente que quer salvar a humanidade dela própria. O seu diretor, Frédéric Mion, teve de se demitir porque acobertou o fato de que Olivier Duhamel, figurão da escola e protagonista da “gauche caviar”, abusava de um dos seus enteados quando a vítima era uma criança. O nome disso é incesto. A Paris esquerdista sabia dos abusos praticados por Duhamel, um sujeito bastante esfuziante e arrogante, mas o caso só veio à tona porque a irmã do abusado escreveu um livro e rompeu o silêncio cúmplice da barbaridade.
Gaspard Estrada nada tem a ver com isso, claro, mas pertence a uma instituição cujo diretor escondia um caso de abuso protagonizado por um dos seus professores — e professor importantíssimo. Eu, se fosse o Gasparzinho camarada do PT, estaria mais preocupado em observar um acobertamento de incesto real, e levado a cabo nas suas cercanias corporativistas, do que em inventar incestos políticos que nunca existiram do outro lado do Atlântico.
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